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terça-feira, 14 de outubro de 2014

O que fazer todos sabem. Como fazer ninguém diz

Em quase uma semana de propaganda eleitoral gratuita para o segundo turno das eleições presidenciais, os eleitores brasileiros – excluindo correligionários e partidários de cada um dos candidatos – ainda estão órfãos de uma proposta de governo que tire o País do marasmo econômico (da inflação em alta e do fraquíssimo desempenho industrial), mas que mantenha os ganhos sociais conquistados até aqui. Tanto Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, quanto Aécio Neves (PSDB), têm o discurso na ponta da língua do que pretendem fazer para que o Brasil volte a crescer, mas preferem os ataques pessoais e a desconstrução do adversário em detrimento à apresentação dos programas de governo. Preferem se autoelogiar, baseados no “eu fiz e, portanto, vou continuar fazendo”, do que apresentar possíveis soluções para os problemas nacionais, que existem e não há mais negação capaz de ocultá-los. Nem mesmo através do discurso otimista da petista, e muito menos pelas previsões mais pessimistas do tucano.
Ambos preferem se apegar ao passado para tentar fazer com que o presente possa lhes garantir o futuro no poder. A retórica é clara e simples. Todos querem o filé, mas na hora de roer o osso o culpado é o adversário político. De qualquer um dos lados. Quem está na situação ou na oposição, tentando voltar ao status da primeira, encontra razões de sobra para se apegar apenas na propaganda e na imagem que ela lhes possa garantir na continuidade. Ou protagonizar a ruptura do modelo vigente. O jogo das palavras está encastelado na cabeça dos marqueteiros, que transformam os candidatos em produto de prateleira. Em algo que se vende como sabão em pó, mas não tem a eficiência na hora de padronizar a própria marca.
E o que é mais assustador, se levarmos em conta o direito ao livre arbítrio, é que neste segundo turno as opções se resumiram a apenas dois produtos. Um já bastante conhecido e o outro tentando ganhar o devido espaço – que um dia lhe pertenceu – na tentativa de atrair os consumidores. Nesse caso os eleitores, que ainda navegam à deriva, perdidos nas naus dos que ficaram pelo caminho e agora pretendem ancorar sua embarcação nos portos que restaram. Interesses que logo tomarão outra direção, assim que um dos barcos afundar. Se eu não quiser optar por nenhum deles, azar. Ou partir para o esculacho mesmo, votando branco ou nulo, o que não representa e nunca vai representar protesto ou contestação. E não há tempo hábil para uma decisão pensada, se os próprios candidatos não ajudam nessa decisão.
O fato é que todos sabem o que fazer, mas não dizem como. Ou não sabem mesmo, apresentando-nos uma propaganda mais enganosa do que a realidade nos permite absorver. E que acentua as semelhanças entre ambos os concorrentes em detrimento às diferenças, que poderiam dar algum alento de mudança estrutural. Não apenas na forma de construir o poder. E é justamente isso que o brasileiro menos quer.

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