Nem bem o primeiro turno da eleição presidencial havia sido concluído, uma das pragas mais danosas que o ser humano cultiva, o preconceito, começou a pipocar nas redes sociais. E de boca em boca, por quem desconhece a extensão territorial e a diversidade cultural brasileiras. A exemplo do que ocorrera no pleito de 2010, uma enxurrada de mensagens, desta vez mais veladas e sempre apagadas em seguida, tentava caracterizar os eleitores de Dilma Rousseff (PT) de forma pejorativa, como se fossem a escória da sociedade e não tivessem o direito à escolha. Como se seus votos valessem menos que os de outros. Como se os nordestinos, o endereço principal desse preconceito, não fossem brasileiros. Vale lembrar que somos, sim, todos brasileiros de um Brasil de cultura rica e de uma multiplicidade socioeconômica impressionantes. E que, independentemente, do lugar (Estado ou município) em que estamos, os direitos – e os deveres – são os mesmos. Desde aquele que vive no extremo Sul do País até o habitante mais isolado em regiões inóspitas e, muitas vezes, de difícil acesso. Do doutor formado nas universidades ao sertanejo que habita as regiões mais pobres, o valor do voto é o mesmo. E deve ser respeitado.
Um desvio de rota
Trata-se (essa postura arrogante em pensar que por estarmos em determinado local somos melhores que os outros), da desconstrução da democracia e dos princípios republicanos, do direito à escolha. Do livre arbítrio para pensar diferente do que pensam tantos outros, que se julgam melhores que seus semelhantes. Um desvirtuamento da percepção do que o ser humano é capaz.
Iguais e diferentes
Infelizmente, nesse processo, há quem corrobore com esse tipo de pensamento. E o difunda de maneira irresponsável, levando até mesmo ao ódio entre os próprios iguais. E que acham graça nessa forma preconceituosa de pensar e agir. São os pobres de espírito e os desprovidos da capacidade de entender que são as diferenças que fazem a riqueza de uma nação. E a pluralidade de seu povo.
Lamentar, apenas
Nesse raciocínio, infelizmente, é que muitos avançam e cruzam o limite da razão. Ainda no dia 6, um dia pós a contabilização dos votos do primeiro turno, o ex-presidente, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, também embarcou na canoa da intolerância, ao tratar os eleitores do PT como “desinformados e que vivem em grotões”. E que são os mais pobres. Não me consta que esse voto não seja válido.
Desrespeito total...
Se foi no calor dos resultados, impensada ou não, a triste declaração de FHC, que pelo que foi e pelo que ainda é na história do Brasil, foi de uma infelicidade extrema. Desrespeita os 43.267.668 eleitores que escolheram Dilma, entre os quais, provavelmente, muitos deles, um dia já votaram nele próprio, quando retomou suas atividades políticas após o exílio forçado pela ditadura militar.
E quem é o eleitor?
Contra todo esse ódio, intolerância e preconceito, sugiro a leitura de um artigo publicado na Folha de S. Paulo, na última quarta-feira, 8, de autoria de Mariliz Pereira Jorge, cujo link publico a seguir. Desfaz todo esse barulho de roda de carroça na cabeça de alguns “letrados ignorantes” (ou seriam ignorantes letrados? http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/10/1529058-o-fim-do-eleitor-tipico.shtml Não custa perder alguns minutos com sua leitura.
Só para lembrar
Rui Barbosa, Thiago de Mello, João Cabral de Mello Neto, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Maria Betânia, Gal Costa, Chico Anysio, João Gilberto, Celso Furtado, Teotônio Vilela, Romero Britto, Gonçalves Dias, Castro Alves... Só para citar alguns, entre os séculos que se passaram. Alguém poderia me dizer qual é a origem desses nomes ilustres?
As coincidências
Em 2002, 800 empresas iriam embora do Brasil. Em 2006, o mensalão não saía da mídia; em 2010, escândalo envolvia Erenice Guerra, do gabinete de Dilma; em 2014, o escândalo dos doleiros e da Petrobras. Esqueci-me que é véspera de eleição...
E a emenda ficou...
...pior que o soneto. Aliás, acabou mesmo com a poesia toda. As duas tábuas encontradas obstruindo uma adutora de água no Centro de Iracemápolis, mostradas pela Gazeta de Limeira na quarta-feira, renderam mais que o esperado. Desta vez com o ex-prefeito Fábio Zuza (PSDB), rebatendo seu sucessor, Valmir Almeida (PT). Em matéria publicada na sexta-feira, também nesta Gazeta, Zuza disse que obras estão sujeitas a defeitos e, para ele, a atual administração não está fazendo mais que sua obrigação ao detectar os problemas. Obra inconclusa, com problema e sinal de má fiscalização, que por sinal é prova de incompetência. Pelo visto, ele também “não sabia de nada”. Zuza praticamente assumiu que houve uma falha. E gravíssima, diga-se.
É fácil de explicar
O fato é que nem Zuza e o PSDB estavam preparados para perder a eleição em Iracemápolis, em 2012. Aliás, Claudinho Cosenza era o favorito, e tudo estaria “em casa”. Esse é um grande erro do político, ou seja, subestimar a capacidade do adversário.
E corou o Pinóquio
Três dias após a reeleição do tucano Geraldo Alckmin para mais um mandato ao governo de SP, os técnicos da Sabesp, estatal paulista para as questões hídricas, anunciaram que falta água em São Paulo. As reservas do Cantareira estão a níveis históricos de baixa vazão. E, no mesmo dia, o próprio Alckmin desmentiu o que seus técnicos falaram. Venho escrevendo sobre a manipulação dessas informações desde o início da campanha eleitoral e, principalmente, afirmando que, passadas as eleições, a população começaria a perceber a realidade camuflada no interesse pelo voto. Alckmin vai se sustentar nessa mentira até o final do segundo turno. Se alguém ainda tinha dúvidas...
Pergunta rápida
Quem de fato está mentindo, a Sabesp ou o governador Geraldo Alckmin?
A grande virada
Se nem mesmo o PSDB acreditava mais em Aécio Neves, e no auge do crescimento de Marina Silva (PSB) acenou até com um possível apoio à então favorita nas pesquisas, o crescimento do senador mineiro, que agora aparece numericamente à frente de Dilma Rousseff (PT) pode ser considerado histórico. E não há como negar. Ele, que não saía dos 19% e chegou até a cair, quando Marina ascendeu ao posto de Eduardo Campos, acabou beneficiado pela incoerência da própria candidata socialista. Ela preferiu o corporativismo religioso ao programa de governo do próprio PSB, e teve forte queda. Suas contradições levaram Aécio onde ele está hoje. Se vai conseguir se manter sob o fogo cerrado do PT, é uma outra história. Neste momento o cenário lhe é favorável.
Nota curtíssima
O meu voto tem o mesmo valor do de qualquer outro brasileiro. Ele vale um voto.
Frase da semana
“Não é PSDB que está ganhando corpo, é o PT que está perdendo discurso”. Da jornalista Eliane Cantanhêde. Em sua coluna na Folha de S. Paulo. Sexta-feira, 10.
domingo, 12 de outubro de 2014
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