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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Por que não acreditamos mais?

Difícil nos dias de hoje entender o bem. Quem o faz e para quem faz. Não deveria ser dessa forma, mas estamos tão ocupados em procurar os fantasmas, que arrastam correntes e fazem as tábuas rangerem em velhos casarões, que nos esquecemos dos verdadeiros espíritos de luz. Ou simplesmente duvidamos da bondade e daqueles que a praticam, porque nossos gestos e atitudes não bastam mais para demonstrar o quanto estamos alheios. Principalmente ao sofrimento do outro.
Difícil, também, reconhecer essa incapacidade e insensibilidade, que temos, em não absorver verdadeiros atos de boa-fé. E quando somos parte dessas ações nos assustamos e, surpresos, exclamamos: ainda existe gente boa nesse mundo! Mesmo que tudo nos conduza a outro raciocínio. Pela falta de humanidade, de bom senso, de razoabilidade. Daí ao descrédito total é um passo menor que o próprio pé.
Vez ou outra somos chamados à realidade. À razão, como gostam de enfatizar filósofos e pensadores. E nesse clamor - que soa tal qual um forte puxão de orelhas - nos deparamos com os incógnitos, que fazem de enredos desinteressados, exemplos de vida. Protagonistas de pequenas histórias, que nunca terão a recompensa devida, a não ser estar bem consigo próprios. Esse sim um sentimento que deveria nortear a vida de todos nós. Alguém já experimentou essa sensação? De como uma simples atitude pode fazer uma grande diferença? Muito mais, talvez, para quem a pratica, do que para quem a recebe? Basta experimentar!
Neste início de semana uma pessoa, que talvez eu nunca vá conhecer, me fez escrever este artigo. Mais que o valor da economia que seu gesto me proporcionou foi a lição tirada dessa experiência. Na sexta-feira minha filha, que estuda em São Carlos, perdeu sua carteirinha do ônibus. Na volta para lá, ontem, me dirigi à sede da empresa para solicitar outra, pela qual pagaria o equivalente a dez passes. Quando apresentei a identidade, o atendente buscou o cadastro no sistema, pegou uma pasta azul de seu arquivo e conferiu o documento com a carteirinha que tinha em mãos. Alguém a encontrou. Devolveu-a intacta e com todos os créditos. Ao final ele me disse ser comum as pessoas fazerem aquilo. Esse “comum” soou-me como um verdadeiro ensinamento à cidadania. Difícil, mesmo, é a pergunta que vem depois: por que não acreditamos mais? Se fatos como esses desmentem a nossa orgulhosa descrença? Quem souber - ou puder - que me responda!

Antonio Claudio Bontorim

1 comentários:

Eliete disse...

Querido, Cláudio, a resposta está em seu próprio texto quando diz: "estamos tão ocupados em procurar os fantasmas, que arrastam correntes e fazem as tábuas rangerem em velhos casarões, que nos esquecemos dos verdadeiros espíritos de luz".
Vou contar para você duas rápidas histórias que aconteceu comigo:
A primeira, quando a minha filha achou que tivessem roubado seu relógio já há muito tempo e, passando pelo pronto atendimento do hospital onde temos convênio, a enfermeira trouxe o relógio embrulhado com o seu nome - ela havia esquecido no hospital, da última vez... O segundo acontecimento foi quando ela me deu uma nota de 50 reais dizendo que o frentista do posto em que eu havia abastecido notou que esqueceu de me dar o troco referente à 100 reais que havia lhe dado para pagar os cinquenta reais que abasteci. Eu pedi para calibrar os pneus, fazendo com que nós dois nos distraíssemos.
Juro para você que eu nem havia percebido a falta desse dinheiro - devido à correria que se transformou a nossa vida... E juro também que esse frentista nem era conhecido, pois fazia pouco tempo que eu abastecia nesse posto.
Tenho várias outras histórias que, qualquer dia, lhe conto pessoalmente, mas isso é apenas para lembrar que o mundo ainda tem muitas pessoas honestas e sensíveis e que nós atraímos energias que estão semelhantes à nossa frequência...