Nada está mais vulnerável, neste momento, que a liberdade de imprensa. O último sinal de alerta vem da Argentina, com a invasão dos jornais "Clarín", "Olé" e "La Razón", por 200 fiscais da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip, a receita federal do país). O governo da peronista Cristina Kirchner (e seu marido) tentou desvincular o evento de possível perseguição à imprensa, em especial ao maior diário argentino, o "Clarín", assumidamente oposicionista e crítico do casal, mas o recado é mais claro e assustador ainda, quando se sabe que aquele país também prepara uma nova legislação para "controlar" o setor.Está se abrindo, aos poucos, mas de forma contínua e perigosa, precedentes que indicam uma batalha forte contra grupos de comunicação, notadamente àqueles que se opõem - ou melhor, questionam abertamente - aos governos de seus países. E a América do Sul tem sido um campo fértil a administrações públicas aventureiras, que não têm medido esforços para desqualificar a mídia de uma maneira geral e os jornalistas mais críticos. Ou melhor, aqueles que não se rendem ao chamado jornalismo chapa-branca. Que não se vendem por 30 moedas. Coisa comum por aqui também.Exemplos anteriores vêm se sucedendo desde a Venezuela, de Hugo Chávez - o maior algoz de o livre expressar do pensamento - passando pelo Equador, de Rafael Correa e resvalando na Bolívia, de Evo Morales. Todos autores de leis que restringem a atuação da imprensa, em nome de uma suposta democratização dos meios de comunicação. Argumentos que se desfazem, a partir do histórico desses governantes, cujas intenções são muito claras: controlar a opinião pública. Não é justo, porém, ater-se apenas aos vizinhos da chamada "revolução bolivariana". E, agora, à Argentina. É preciso olhar para dentro deste País. De Sarney a Gilmar Mendes. Para entender que riscos existem por aqui também. Da censura prévia para garantir a não publicação de escândalos, que envolvem personagens da República, ao desrespeito do Supremo Tribunal Federal (STF) com os jornalistas, jogando a formação universitária dos profissionais na sarjeta, até a tentativa de limitar a internet durante o período eleitoral, representam uma afronta à liberdade de imprensa. Assim como a interferência de políticos - e isso em todas os níveis de poder - no dia a dia das redações, numa tentativa de cavar uma notícia positiva ou impedir uma negativa. Típico provincianismo. Típico de república bananeira.Estamos no limiar de um de uma nova onda de crimes abertos contra a imprensa livre. Não podemos baixar a guarda. É preciso manter acesa a chama da vocação libertária da imprensa. E a melhor maneira de se precaver desses retrocessos é não deixar que eles passem em branco. Mesmo que a espada de Dâmocles esteja sobre nossas cabeças.
Antonio Claudio Bontorim
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
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