Antes de tachar os GMs grevistas e o Sindisel de arruaceiros e o prefeito Sílvio Félix (PDT) de intransigente, é preciso buscar na história deste País o que faz explodir o irracionalismo. O que leva ao confronto funcionários públicos - cuja principal missão é se fazer respeitar e saber respeitar a coisa pública - e os poderes executivos? Está implícito na noção brasileira da desvalorização profissional. Em especial daqueles que atuam em áreas essenciais e não têm a devida valorização e respeito. Vem de longe, mas sempre vai parecer atual. E pontual!
Faz parte da cultura dos governos federal, estaduais e municipais, o descaso com os setores essenciais dos serviços públicos. Educação, Saúde e Segurança não são, quando o assunto é remuneração e condições de trabalho, levadas as sério. O policial militar é mal pago- e muito - pela segurança que ele nos dá e pelos riscos que corre; o professor tem péssima remuneração, levando-se em conta sua responsabilidade social; e o médico (o profissional de saúde, de uma maneira geral) tem jornadas absurdas para poder garantir um mínimo de qualidade em seu ganho. Quanto o SUS - federal - repassa a médicos e hospitais públicos e privados, pelos serviços prestados?
E o próprio serviço público que era sinônimo de status perante as demais funções profissioais, hoje vive à sombra das demais carreiras. Hoje, apenas funcionários comissionados, aqueles de função política e de alto "QI" (quem indica) e nas três esferas de poder, têm privilégios, que são negados àqueles que prestaram concurso, lutam por uma carreira sólida, dando como contrapartida um serviço eficiente e de qualidade.
O que aconteceu no Plenário da Câmara Municipal de Limeira, na noite da quarta-feira, é uma síntese de todo esse enredo mal escrito pelos nossos administradores públicos. Sejam eles o presidente da Repúlica, governadores ou prefeitos. E partindo do pressuposto que toda ação gera uma reação em contrário, de igual ou maior força, os atos de puro vandalismo dos GMs e a condução do movimento pelo sindicato pode ter precipitado algo nada favorável ao próprio movimento grevista, que é justo quando reivindica melhores salários e condições de trabalho, mas perde completamente a razão, quando a prática deixa e ser o diálogo e parte em direção à beligerância. Ao confronto, não de idéias, mas do empunhar de armas.
O constrangimento - de ambos os lados - nunca foi, não é e nunca será a melhor política para se conquistar alguma coisa de valor. O diálogo ainda é a forma humana e inteligente de resolver pendências dessa natureza. Mesmo que seja difícil, de longo caminho. Assim como a resistência a esse diálogo só acirra os ânimos. De agora em diante tudo o que pode acontecer é imprevisível.
Antonio Claudio Bontorim
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
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