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domingo, 2 de novembro de 2014

A política como ela é. Sem tirar e nem por

Passadas as eleições, seus resultados e consequências, que embalam as expectativas da população para 2015, quando Dilma Rousseff (PT) começa seu segundo mandato, é preciso voltar um pouco à realidade política local. Se a administração Paulo Hadich (PSB), parece ter encontrado um pouco – eu disse um pouco – de objetividade, com algumas obras importantes em andamento, como a do piscinão – ou bacia de contenção, em sua denominação técnica – do Tiro de Guerra, por exemplo, uma nova batalha está no ar. Paira sobre as cabeças de todos aqueles que compõem a base governista, para garantir governabilidade, um insustentável clima de animosidade, embora todos corram com desmentidos e adulações. Se a situação de crise hídrica deu um descanso nas críticas ao governo municipal, que tem, sim, tomados decisões acertadas (apenas tardias) e está demonstrando rigor nas ações necessárias, o ambiente político está conturbado. E deve ficar ainda mais carregado daqui para frente, com alguns embates em andamento e que interessam diretamente ao comando do Edifício Prada. E as previsões são pouco alentadoras no sentido de contorná-los.    

Os enfrentamentos
O que até agora parecia fácil para o Poder Executivo,  com uma oposição frágil e desconexa, centralizada em um ou outro vereador e sem lideranças externas locais, pode ter alguns complicadores, se levados em conta os últimos acontecimentos envolvendo a base aliada de Hadich na Câmara. O primeiro deles, e que vai dar muita dor de cabeça, é o caso do vereador André Henrique da Silva, o Tigrão (PMDB)

Uma troca indigesta
Situacionista, com alguns rompantes de oposição, Tigrão é um número importante na bancada governista. E a Comissão de Ética instalada para avaliar sua conduta recente, e até mesmo passada, pode levá-lo à cassação. Se isso vai acontecer, é difícil prever qual será o resultado das investigações. Há interesses outros em jogo, que apenas a falta de decoro do vereador. Há substituições nada palatáveis ao Prada.

É matemática pura
Há um conflito ético em jogo. Como há, também, uma preocupação maior ainda, caso o peemedebista seja cassado. Seu suplente, o também peemedebista Bruno Bortolan, deverá compor com a oposição. E, na matemática, um número a mais pode desequilibrar a balança. Mesmo porque há muitos descontentes, que poderão se distanciar do governo e, dessa forma, adeus conforto na hora das votações.

Caminhos opostos?

Embora o próprio PT esteja na defesa quase intransigente da atual administração municipal – e perdeu muito com isso, politicamente falando – é claro o desconforto entre o atual presidente da Câmara, Ronei Martins, e o prefeito. Notou-se, em aparições recentes, um certo distanciamento entre ambos, que nem deu para disfarçar. E as eleições estadual e federal foram a gota d’água da tempestade.

Diferencial político
De um lado o vice, Antonio Carlos Lima, do PT, fazendo campanha para Padilha e Dilma e, de outro, o prefeito, alinhado com Alckmin e Aécio. Difícil não se incomodar com isso. E de ambos os lados. Em 2015 será eleito um novo presidente da Câmara, e todos os seus pares. Ronei volta à sua cadeira no plenário e seu posicionamento, a partir daí, é uma incógnita. Se optar pela independência, é mais dor de cabeça ainda.

De alta voltagem
Tem ainda votação da taxa da iluminação, batizada pomposamente de Contribuição para Serviços de Iluminação Pública, de sigla não mesmo pomposa (Cosip). Como será votada no pós-eleição e ainda neste ano (até pode ser que passe), mas as mágoas com certeza não se apagarão. E pode não ser com tanta folga assim, como foram outros projetos polêmicos da atual administração. É preciso ver se vale o desgaste.

Pinceladas iniciais
Como estamos fazendo ilações no campo político, há uma grande probabilidade de tudo isso não acontecer e continuar como está. Um quadro pré-pintado. Ampla maioria governista, rolo-compressor e tudo mais. Mas que 2015 será explosivo, isso será.

Serão anos difíceis
O próximo ano não será exclusivo em turbulências locais. O que aguarda a presidente reeleita Dilma não são tapetes vermelhos, pétalas de rosas e afagos. Ela será obrigada a um jogo de cintura política que, infelizmente, não é o seu forte. A convivência com o Congresso não será nada fácil. Ou melhor, com o PMDB, partido da base aliada, mas de um virulência implacável. Um verdadeiro parasita que se aboletou do poder e manteve refém FHC, Lula e a própria presidente neste seu primeiro mandato, que está chegando ao fim. E seria da mesma forma, caso o tucano Aécio Neves tivesse vencido as eleições. Sem lideranças nacionais, o partido do vice-presidente (que ironia...) se garante através de chantagens e do “é dando que se recebe”, para permanecer no comando. Puro fisiologismo.

Na própria família

É preciso reconhecer, também, que o PT hoje é refém do próprio PT. E Dilma terá que acomodar seus correligionários e ceder às pressões partidárias, caso queira governar. Ou então partir para o enfrentamento e, quem sabe, contar com a oposição.

Mais semelhanças
O maior problema da política nacional é que a palavra conciliação não existe no vocabulário de nenhuma liderança política. De nenhum partido, porque os interesses corporativos se sobrepõem aos da própria nação. É tudo do mesmo.

Isentando as redes
E por falar em intolerância¸ as redes sociais continuam exímias difusoras do preconceito e do ódio. Ou mau uso dessas ferramentas, que são território livre. Ninguém deve atingir seu semelhante moralmente, tendo como pano de fundo o direito à livre expressão do pensamento. Os meios legais para um ressarcimento a ataques morais ainda são difusos e ficam à mercê de uma decisão individual, uma vez que o Código Penal brasileiro não contempla crimes praticados através da internet. A não ser os já conhecidos: injúria, calúnia e difamação, cujas penas nem sempre são proporcionais à gravidade do crime cometido. O que não se deve é, entretanto, culpar as redes sociais por seu mau uso, cuja responsabilidade é de quem as utiliza. Falta de consciência.

Pergunta rápida
Por que o ser humano ainda é refém da intolerância?

Reconhecer o erro
As eleições passaram, mas os ânimos continuam acirrados. Ainda há uma parcela considerável de pessoas que não baixaram a guarda, para apostar no pior. Defino-os como desinformados que não conseguem fazer o uso da matemática básica, e somar dois mais dois para chegar a quatro. Insistem em suas teorias conspiratórias, para não reconhecer o recado das urnas. Que se deram a vitória ao PT deixaram um claro recado de insatisfação. E mais que continuar com a “campanha eleitoral” como se fosse prorrogação de um jogo, deveriam investir no reconhecimento da própria falha. Mais que a conhecida competência petista, houve uma enorme e recorrente incompetência tucana. Uma reavaliação de postura faria muito bem para esse entendimento.

Os números finais
Outro reflexo aguardado no pós-eleição é no que diz respeito à crise hídrica no Estado de São Paulo. Não é questão de ser repetitivo, mas de chamar à realidade os envolvidos no problema, em especial o governador reeleito – e com larga margem - Geraldo Alckmin (PSDB). Infelizmente sua atuação, até aqui, tem sido um desastre e de uma irresponsabilidade memoráveis. Sua repetida negação dessa crise, e seu discurso e preocupação em desmentir os técnicos envolvidos no assunto, são lastimáveis. Não dá para entender tamanha obsessão em negar o óbvio. Mesmo com tudo e todos – inclusive a Sabesp, que opera o sistema de água – mostrando que a situação é crítica. Nem mesmo a disputa eleitoral é motivo para isso.

Nota curtíssima
O escândalo da Petrobras e a crise hídrica paulista sumiram das pautas na mídia.

Frase da semana
“Devo, não nego. Pagarei quando puder”
. De Ricardo Coutinho (PSB), reeleito ao governo da Paraíba, ao recorrer à presidente Dilma Rousseff (PT), para ajudá-lo. Na Folha de S.Paulo. Sexta-feira, 31.

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