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terça-feira, 25 de novembro de 2014

A história na ponta de uma caneta



Confesso. Sou, hoje, um aficionado pela preservação de qualquer patrimônio histórico ou cultural que resgate o passado de forma a mantê-lo vivo na memória daqueles que vivenciaram seu apogeu e, principalmente, na das gerações futuras, para que não percam o contato com sua própria história. Mas  não foi sempre assim, e mais adiante explicarei o porquê. Passado, presente e futuro se entrelaçam, de tal forma, que o descuido ou um momento de desatenção com as experiências vividas, e pode ser tarde demais para a construção dessa identidade. E quando o descuido se torna o principal algoz dessa preservação, então está na hora de rever conceitos e pensar, com seriedade, nos erros cometidos e o que fazer para não repeti-los. E, dessa forma, garantir que o pouco que ainda resta não desmorone perante nossa ineficiência ou desinteresse, ou se perca na falta de planejamento de quem, definitivamente, deveria estar atento a essas questões.
São duas as experiências que quero retratar aqui, levando em conta a autorização, dada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e mostrada por esta Gazeta na edição do último sábado, para que alguns prédios da baixada da Estação, na Barão de Cascalho, sejam demolidos. Em nome de um empreendimento que pouco está preocupado com a história e muito menos com o patrimônio cultural e da especulação imobiliária. A primeira delas, seria ingênuo de minha parte achar que questões financeiras não estão envolvidas nesse processo, assim como não acreditar que aquelas paredes desabem a qualquer momento, de forma “acidental”. Já vi essa história antes e, tenho certeza, não será diferente agora. Não está, aqui, em discussão, a decisão técnica dos desembargadores do TJ e nem o interesse do referido empreendimento. Mas, sim, a inoperância do poder público por não ter agido antes que a deterioração daqueles imóveis chegasse a esse ponto crítico. Penso que o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Limeira (Condephali), apesar de afirmar o contrário, também tem sua parcela de culpa. Sem trocadilhos, não se pode esperar que tudo caia no colo. O mínimo a fazer nem sempre é o suficiente.
A segunda, uma experiência pessoal, que tive lá nos anos de 2002 e 2003 – e que ratifica todo o meu comentário acima – ao tentar resgatar a história da imprensa limeirense. As dificuldades em reunir material histórico (antigas edições de jornais e revistas), que estava jogado (e esse é o termo correto mesmo) em prateleiras na antiga biblioteca municipal, à mercê do desgaste provocado pelo tempo e pelas intempéries climáticas. Consegui registros importantes. O que me assustou, entretanto, foi que pouco pude resgatar da história mais recente, porque eu havia me descuidado de arquivos pessoais, que retratavam minha participação no processo comunicacional limeirense. Senti, por não ter sido mais atencioso com o material que dispunha em mãos, como sendo impossível conseguir exemplares de outra forma. Fui omisso e dei pouca atenção aos detalhes, que mais tarde me privaram de registros importantes acerca do tema que pesquisava. É o mesmo caso dessa omissão e descuido do poder público com os casarões históricos da Barão de Cascalho, pois mais adiante estaremos privados de sua arquitetura e do que representaram lá atrás. Foi-se empurrando responsabilidades, que logo mais empurrarão para deitá-los ao chão.

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