Confesso que ainda não entendi. E, sinceramente, mesmo com as "legalidades" contidas na Lei de Licitações e nos pregões utilizados por órgãos públicos (prefeituras em especial) fica difícil para um leigo compreender a lógica do custo de um produto, que no varejo compra-se infinitamente por menor valor do que no atacado, chegando ao descalabro de ter seu preço até seis vezes maior. Muito mais complicado é digerir, sem ter uma gloriosa indigestão, as explicações que se nos apresentam. Mesmo porque não dá tempo para isso, pois nos são enfiadas goela abaixo sem a necessária mastigação. Não há razoabilidade, em tantas palavras expostas, que nos convençam a aceitar que há um jogo comercial diferente, que expõe a fragilidade do poder público em suas relações com o mercado e fornecedores. Como um mesmo produto (em hipótese) pode custar R$ 3 ao consumidor, no varejo, e à Prefeitura ter seu preço a R$ 18?
Nesse sentido a lógica é falha ou nossa percepção está muito aquém da racionalidade, como nós a conhecemos. Sem entrar no mérito de gestão, seja ela de Pedro, de José, de Sílvio ou de Paulo e o que valha, a manchete desta Gazeta do último domingo ("Material de limpeza custa até seis vezes mais para a Prefeitura") por si só causa um mal-estar de proporções imensuráveis. E os exemplos nela contidos, em matéria muito bem conduzida pela jornalista Thayla Ramos, expõem as engrenagems que movimentam essa relação entre forncedor e comprador. E tudo explicado com uma naturalidade que ofende a inteligência de qualquer um. "É normal esse tipo de situação", explicou o secretário de Administração, Tércio Garcia, que assinou a ata do pregão, realizado no gestão passada. Nesse caso, o que seria anormal?
Há um entendimento geral, e uma concordância com esse pensamento, de que o fornecedor que oferecer o menor preço leva o pregão. Nada mais justo, razoável e dentro do padrão dessa relação. O que não se aceita e muito menos pode ser considerado por qualquer mente provida de consciência, é que o esse "menor preço" tenha que ser sempre acima dos valores de mercado. E do comércio varejista nosso de cada dia. O secretário Tércio explica, da forma mais natural do mundo, que há uma pressão dos fornecedores para com o poder público, porque os contratos são de longa duração e não contemplam aumentos de custeio nos produtos que serão adquiridos. Também dentro daquilo que nossa razão possa compreender. São as regras do negócio comercial. A lei da oferta e da procura.
Então, se fornecedores de prefeituras podem pressionar com o valor bem acima do praticado às nossas idas diárias aos supermercados, por conta dessa não previsão ou repasses de possíveis aumentos de preços durante a vigência do pregão, está na hora de mudar esse conceito, que serve de desculpa a um gasto desnecessário e absurdo. E mudar, também, a cultura, tanto do serviço público como de seus fornecedores. Há algo de errado nisso tudo. Se eu posso pagar R$ 2,69 por uma dúzia de prendedores, por que uma prefeitura tem de pagar R$ 16,75 pelo mesmo item? Devo ter perdido alguma aula, porque continuo não entendendo.
terça-feira, 30 de abril de 2013
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