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terça-feira, 23 de abril de 2013

O contribuinte paga. Mas não leva

O Brasil está mesmo num mato sem cachorro. Numa analogia ao dito popular, sem administradores públicos competentes e compromissados com o desenvolvimento do País, que não seus próprios interesses. O que estou escrevendo não é novidade para ninguém. E virou um mantra que embala a sonolenta vida política brasileira, vez por outra despertada de seu berço esplêndido por atos crassos de corrupção, com intermitentes choques de realidade proporcionados pela imprensa, que apesar dos caminhos tortuosos pelos quais transita e escusos interesses demonstrados em suas linhas editoriais, não deixa de conduzir temas que propõem ampla reflexão.
Dentre eles, os gargalos da infraestrutura brasileira e a baixa qualidade dos serviços prestados pelo próprio Estado. Os sintomas mostram a doença. Falta, porém, interesse em usar o remédio indicado. E quando a prescrição é seguida, a dosagem ministrada é menor que a apontada pelo receituário. A enfermidade se torna crônica e o paciente vai cambaleando à espera de um novo, e quem sabe, definitivo tratamento. Que parece não levar à melhora esse paciente.
No domingo, o "Fantástico" trouxe interessente matéria sobre as deficiências estruturais - ferroviária e portuária - que fazem com que o País jogue milhões pelo ralo com o mau uso do dinheiro público em obras superfaturadas que não acabam nunca. O melhor exemplo da reportagem foi a Ferrovia Norte-Sul, obra da era José Sarney, que passou pelos rápidos mandatos de Fernando Collor de Mello e de seu vice, Itamar Franco, atravessando dois de Fernando Henrique Cardoso e outros dois de Lula. E agora, pela metade do governo Dilma Rousseff, continua sem uma luz no fim do túnel, por onde trilhos de má qualidade passam. E 26 anos depois de seu início, a obra ainda está longe de ser concluída. A quem isso interessa? É simples, a agentes políticos e empeiteiras que enchem seus bolsos com o dinheiro de taxas e impostos, sem o mínimo escrúpulo. Situação que se arrasta pelos Estados - sem exceções - e avança pelos municípios. É a tal descontinuidade, à qual venho me referindo em meus últimos comentários. A vaidade do gestor público que assume, impede-o de entregar o que seu antecessor iniciou. Questão de marca pessoal...
Passando das obras para os serviços, ainda ontem, o Estado de São Paulo acordou sob a greve dos professores das escolas estaduais. Resultado do sucateamento do ensino público paulista e de políticas salariais de um governo, que não atendem às necessidades de empobrecidos professores. Isso sem contar com a possibilidade de as universidades federais, por conta do MEC, deixarem de exigir títulos de mestres e doutores em concursos para seleção de docentes.   
Por aqui, as alças do Viaduto Paulo D'Andrea continuam afundando. Obras públicas mal planejadas ou incompletas, livres às ações de vândalos e, pasmem, a necessidade em refazer ou corrigir outras tantas. Retrabalho que leva ao desperdício. E parte do dinheiro, nelas empregado, hoje está engordando contas bancárias em algum lugar do planeta. O contribuinte pagou, mas não levou. O eleitor votou e, mais uma vez, vê que a sua confiança foi traída novamente. Tempos difícies, estes.

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