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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bateau Mouche e outras tragédias anunciadas

Mais de 230 mortos, a maioria de jovens com idade média entre 20 e 25 anos, e outros tantos óbitos, dos quais ainda se terão notícias, entre os que estão nos hospitais da cidade gaúcha de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e na própria capital do Estado, Porto Alegre. Esse é o triste saldo de mais uma tragédia de grandes proporções no Brasil, que comoveu o mundo e poderia ser evitada, caso uma sequência de erros técnicos e omissões de autoridades não tivessem acontecido.
O incêndio na boate Kiss, no município do interior gaúcho e conhecido polo universitário, é mais um pedaço de um grande iceberg que teima em vir à tona, devido à falta de empenho e vistas grossas de agentes públicos que deveriam zelar pela segurança e bem-estar da sociedade, da ganância pelo lucro fácil, movida pela falta de escrúpulos de empresários que se acham acima da lei e, principalmente, pela impunidade, que, não tenho dúvida, alcançará também os proprietários daquela casa noturna, que deveria ser um local de diversão e se tornou um palco de horror e luto para mais de duas centenas de famílias.
Esse é mais um exemplo, e dos tristes, dos tantos diários que vemos, a ilustrar o pernicioso jeitinho brasileiro, que para tudo tem uma explicação e argumentos, que parecem plausíveis, mas não tão óbvios quanto deveriam ser. Um perigo que não ronda apenas apertadas casas noturnas, mas templos religiosos, edifícios comerciais e residenciais, shoppings, cinemas, teatros, estádios, entre tantos outros locais fechados de aglomeração de pessoas, simplesmente porque deixam de lado aquilo que está previsto em lei - normas e equipamentos de segurança desrespeitados - e deveriam ter fiscalização rigorosa, mas não têm. E alvarás vencidos e descumprimento dessas normas não significam, no Brasil, que esses locais deixem de funcionar. Continuam a proporcionar esse futuro incerto, que infelizmente chegou a Santa Maria, quando deveriam ser momentos de felicidade, integração e celebração de vida. As vítimas do Bateau Mouche ainda esperam por Justiça.
Outra constatação: esse descaso - principalmente de quem deveria fiscalizar - é regra dentre algumas raras exceções. Quando deveria ser justamente o contrário. Como motoristas bêbados, que causam dor e matam ao volante, esses cidadãos logo estarão agindo novamente. Se retirar esses irresponsáveis de cena e os tantos culpados, que riem descaradamente dessa impunidade institucionalizada, não significa trazer de volta à vida suas vítimas e aliviar a dor de pais, mães, parentes e amigos, poderia se transformar num exemplo para evitar futuros acontecimentos dessa natureza. O mesmo exemplo que o STF deu no caso do mensalão, mandando políticos e empresários para a cadeia. O que me entristece é saber que, logo mais, estaremos falando sobre uma nova tragédia anunciada.

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