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terça-feira, 12 de maio de 2015

Vício e falta de caráter estão na origem



Deputados que se sentem ameaçados nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, já se movimentam para barrar – ou pelo menos tentar – um segundo mandato do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Acuados e insuflados pelo presidente da Câmara Federal, o peemedebista Eduardo Cunha (um dos citados), parlamentares, liderados pelo deputado Paulo Pereira (SDD), o Paulinho da Força, autor da proposta, já estão recolhendo assinaturas para uma emenda nesse sentido, que se aprovada evitaria a recondução de Janot ao cargo e as investigações poderiam ganhar um novo rumo. Tão esdrúxula quanto a proposta, é a argumentação de Paulinho da Força, de que “o Ministério Público Federal (MPF) precisa de uma oxigenação, porque o procurador-geral já estaria viciado”.  Viciado em quê? Em ter a coragem de citar nomes de parlamentares implicados em documentos do escândalo? Se há um interesse tão grande em investigar todos os políticos envolvidos, até ex-presidentes e a atual presidente, Dilma Rousseff (PT), deputados e senadores não estão imunes a isso. E também devem ser punidos, caso se comprovem as denúncias, que ainda têm um longo caminho pela frente para chegar às necessárias condenações dos culpados.
A proposta, me parece, tem um vício, sim, mas de origem. Parte de um Parlamento desgastado pelas próprias atitudes de seus integrantes, que têm sede de imputar crimes aos outros, mas não aceitam que se julguem seus próprios. E quem mais, além do próprio Cunha, não estaria por trás dessa indecência? Paulinho é só um mensageiro de luxo, um leva-e-traz, que defende os interesses de seu patrão, o presidente da Câmara, e seus próprios. Mesmo porque de inocente, ou coerente, ele não tem nada. Além desse vício na origem, a conduta duvidosa do proponente é muito conhecida nos meios políticos e fica difícil entender essa preocupação, que não seja com o próprio umbigo. Se fosse um Parlamento sério, interessado em chegar à verdade necessária e tão esperada, não se importaria com as investidas de Janot contra seus integrantes. Pelo contrário, chamaria para si o exemplo de que – como ficou conhecida e desgastada essa frase – seria preciso “cortar da própria carne”. Pelo bem dos interesses nacionais. Só que não é o que parece.
Até onde pode prosperar essa iniciativa, ridícula e corporativista, vai depender, é evidente, deles próprios, os deputados. Que gostam de legislar apenas em causa própria, quando são envolvidos em denúncias. Se há políticos isentos dessa compreensão de autoproteção e que estão dispostos a dar continuidade nas investigações, sem se amedrontar por suas consequências, é preciso que se manifestem de imediato. Ou então simplesmente assinem a proposta, cuja lista já corre pela Câmara. E o mais triste e chocante de tudo isso são esses senhores, que estarão à frente de uma reforma política. Se ela acontecer. É o caráter que deve moldar o homem, para que o homem não molde o próprio caráter às suas conveniências.

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