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terça-feira, 14 de abril de 2015

Tutela partidária. Avanço ou retrocesso?



Quando as primeiras manifestações (desde o impeachment de Collor) começaram a levar multidões às ruas, lá em junho de 2013, e não foi permitida a tutela partidária, o que seria comum em se tratando de movimentos sociais alinhados a partidos de esquerda, muitos caciques chiaram. Queriam estampar suas bandeiras e símbolos em meio aos manifestantes, que não permitiram, para não contaminar o movimento e dar palanque a políticos. Os protestos se estenderam por cerca de um mês, avançaram durante a realização da Copa das Confederações, naquele ano, e do Mundo, no ano passado. Em menor intensidade, porém, não menos barulhentos. Contidos pelas barricadas das forças de segurança, ninguém chegou próximo aos estádios, mas o barulho era insistente e levou o governo, timidamente – e põe timidamente, nisso – a anunciar algumas propostas, logo engavetadas. E não debatidas com a sociedade, como deveriam, ou pela classe política.
Chega 2015, três meses do segundo mandato do governo Dilma Rousseff, e o PT a iniciar sua quarta gestão seguida na Presidência da República, um novo tipo de protesto é convocado e leva às ruas mais de um milhão de participantes – quase dois, nas contas da PM – e muito menos, segundo o Instituto Datafolha, que também mediu as passeatas. Desta vez não foram os movimentos sociais a convocar os manifestantes. Movidos pela intolerância e pelo ódio que destilaram durante toda a campanha eleitoral, em 2014, os novos “caras-pintadas” saíram às ruas, a brandir o “Fora Dilma” e “impeachment já”. E que ninguém venha me dizer que é protesto popular, por que não é. Presenciei o ocorrido em Limeira, no domingo passado, e é fácil perceber - e distinguir - quem o está conduzindo. E, principalmente, quem está dele participando. Tão óbvio quanto estampado em cada rosto. Não que isso tire o mérito do movimento e o torne menos justo, muito pelo contrário, é um direito assegurado – o da manifestação e da livre expressão do pensamento – por preceito constitucional. Apenas é fato. E contra o qual,  não há argumento.
E isso não tem nada a ver com divisão de classes, como gostam de enfatizar alguns analistas, mas com a finalidade objetiva dos pedidos contidos nas palavras de ordem, que não trazem propostas. Daí a baixa adesão já na segunda edição dos manifestos convocados, que nem chegou a um terço do primeiro. O que já era previsível. Confesso que não pretendia escrever nada sobre o tema, mas a inconsistência e o desalinhamento entre os vários movimentos que buscam a paternidade do “Fora Dilma” me levaram a essa necessidade. Principalmente porque já se fala em partidarização nas próximas manifestações, quando elas ocorrerem. Que vão acontecer não há dúvidas. E o que tem de partido político querendo tutelar essas marchas, mas que até agora não teve coragem, bem como seus líderes, é um caso à parte. Hoje, os partidos políticos não são mais os portadores das necessidades da população. Viraram alvos da insatisfação popular. Todos eles. O PT é o bode expiatório nessa cadeia de acontecimentos, por questões que todos nós conhecemos. O recado é mais direto do que parece. A bandeira correta a ser hasteada, entretanto, é a da reforma política. Mas sem tutela exclusiva.  

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