Pages

terça-feira, 28 de abril de 2015

Nós. E nossa mania de desperdício



Todos nós somos movidos pelo imediatismo em nossas ações. Costumamos apertar o cinto para as calças não cair, mas ao primeiro sinal que ela está segura, afrouxamos novamente sem pensar nas consequências. Sem imaginar que calça com cintura larga é um convite a ficarmos nus. Isso vale para todas as atividades cotidianas mais comuns, que nos levam a desperdícios, e nem de perto nos preocupamos com o momento em que essa calça possa cair. Explico. Estamos passando por uma crise hídrica – sim, ela ainda não acabou – sem precedentes, pelo menos nas últimas sete décadas e, após um período de conscientização sobre o consumo racional da água, muitas medidas anunciadas e até mesmo punições aos gastadores, o tema simplesmente sumiu das pautas dos meios de comunicação. As primeiras chuvas, que não foram intensas e nem contínuas, que pouco fizeram pelos mananciais, parecem que foram suficientes e, principalmente, um convite à gastança desnecessária.
Enquanto o governo estadual se desmanchava em desmentidos sobre racionamentos em municípios atendidos pela Sabesp e sem anunciar investimentos futuros, os outros foram tomando suas medidas conforme as suas necessidades mais imediatas. Os resultados foram interessantes, mostrando que a consciência do cidadão é importante em ocasiões de apertos, mas não pode afrouxar ao primeiro sinal de alívio. E está acontecendo neste exato momento. As autoridades públicas pararam de falar, as concessionárias e autarquias responsáveis pelo abastecimento de água deram uma “trégua” no árduo trabalho que tiveram no período crítico e o desperdício volta à rotina, como se todo o problema estivesse resolvido. E não está. Não é assim que funciona. É justamente no período das vacas gordas, como se diz – embora não estejam tanto assim – que é preciso racionalizar para que elas engordem mais ainda. Ou pelo menos não emagreçam e, posteriormente, nos faltem o leite e a carne.
Não há como desligar o sinal de alerta neste sentido, uma vez que o caminho é longo e ainda perigoso. Sem deixar de lembrar, também, que a crise hídrica é sinônimo de diminuição de oferta de energia elétrica, num círculo vicioso que só faz aumentar os riscos de apagões. E de preocupação generalizada. Tanto da população quanto do setor produtivo, esse extremamente dependente da água e da eletricidade. Principalmente porque essa energia, em sua quase totalidade, vem da água. Das usinas hidrelétricas. Pelo menos deveria ser dessa maneira. Portanto, se ao poder público e às concessionárias desses serviços – tanto de água como energia – cabem a obrigação de investir na modernização dos sistemas de abastecimento, ao cidadão resta a consciência de saber utilizar. E não tem outra saída. É uma via de mão única. É uma torneira fechada aqui, uma luz apagada lá e, assim, sucessivamente. Se não precisamos gastar, não devemos nunca desperdiçar.

0 comentários: