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terça-feira, 10 de junho de 2014

Cabeça, tronco e membros em decomposição

A partir de hoje “é permitida a realização de convenções destinadas à deliberação sobre coligações e à escolha de candidatos”. Está lá, no calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para este ano e atende ao artigo 8º da Lei nº 9.504/97. A legislação que regula as eleições no Brasil. Outras determinações importantes também têm o dia 10 de junho como ponto de partida, mas vou me ater à questão das coligações entre os partidos. E sem a devida afinidade ideológica ou de conteúdo programático, daqueles que encabeçam chapas majoritárias ou proporcionais. E muito menos os interesses éticos obrigatórios.
Uma disputa que não impede ninguém de procurar desafetos e até adversários viscerais, quando se está em jogo o poder, mas não o bem-estar coletivo, que faz parte das eternas juras de amor dos candidatos para com a população. O grande lance, hoje, é agregar quantidade e não qualidade. Pois é esta quantidade que vai determinar o tempo de propaganda no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão, a menina dos olhos de todas as agremiações políticas. Uma equação política em que quanto mais minutos e segundos cada partido conquistar com seus aliados, neoaliados ou uniões fisiológicas de última hora, melhor será o desempenho eleitoral. Não acredito nessa transferência imediata de valores, e muito menos nos seus resultados práticos. O cuidado com a qualidade das alianças foi deixado de lado, o que possibilita o surgimento de aberrações eleitorais e de pouca confiabilidade.
Assim como fez com Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo pelo PT, em 2012, Lula obrigou seu novo afiliado, o petista Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo, a apertar as mãos e sorrir para as câmaras na companhia de Paulo Maluf (PP), um dos subprodutos da ditadura militar. E inimigo mortal do próprio Partido dos Trabalhadores, em outras épocas. Saliente-se, também, que o próprio FHC e todo o ninho tucano já abraçaram Maluf. E da mesma forma foram criticados, pois juntaram numa mesma missão reféns a seus próprios algozes, como numa espécie perdão coletivo às práticas de um passado não muito distante. Em nome da governabilidade.
Outra aliança (e essa já sacramentada de muito tempo), a do PSDB com o Democratas, também é uma desvirtuação política, pela própria história dos cardeais tucanos, perseguidos, presos e exilados pelo regime militar, que também é a origem do DEM, saído das fileiras do extinto PFL, que por sua vez nasceu de ex-integrantes da antiga Arena, partido que dava sustentação ao golpe de 1964. Portanto, como se pode ver, ninguém pode atirar a primeira pedra e depois esconder a mão. Outra estranha coligação, que seria improvável à luz da razão, uniu a evangélica e ex-verde Marina Silva ao socialista Eduardo Campos. Só não explosiva, porque também fisiológica.
E por fora corre o PMDB, que de qualquer forma será governo. Tanto com Dilma – de quem é aliado e tem o vice-presidente – quanto com Aécio ou Campos, se porventura um deles for eleito, continuará no poder. Usará de sua força política de partido amplamente majoritário para fazer um novo refém. Como o foram FHC e Lula. Entre o bem, que pouco dura, e o mal, que nunca se acaba, enquanto faltar coragem para se fazer uma reforma política de grandes proporções, só haverá troca de letrinhas, pois o caldo continuará o mesmo, e a produzir o mau cheiro que o sistema político brasileiro criou.

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