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terça-feira, 6 de maio de 2014

Volta Lula. Muito mais sério do que parece

Os próximos dias deverão ser de solavancos políticos para Dilma Rousseff e o próprio Partido dos Trabalhadores. A pesquisa eleitoral da IstoÉ e Instituto Sensus, publicada na edição desta semana da revista, reflete um momento complicado para a presidente e suas pretensões de reeleição. Uma turbulência sem precedentes nesses últimos 11 anos de governo petista, muito mais impactante até do que o próprio mensalão, no primeiro mandato de Lula. Apesar da manutenção da liderança nas pesquisas, um segundo turno começa a ficar mais próximo, frustrando as pretensões do PT, que até há bem pouco tempo nadava de braçada numa eleição ganha em primeiro turno.
Como já mostrei neste espaço, em artigo publicado no dia 8 de abril (“Luz acesa e um balde de água fria”), a deterioração dos índices de popularidade de Dilma indicava que ela não estava mais sozinha no páreo. Apesar de os porcentuais estarem bem próximos – dentro da margem de erro – para a efetivação de um segundo turno, o cenário com os candidatos da oposição, o senador tucano mineiro, Aécio Neves, e o governador socialista de Pernambuco, Eduardo Campos, continua na mesma. Não conseguem decolar para um voo mais alto. Continuam não empolgando, pela própria falta de discurso. Beneficiam-se apenas das trapalhadas do governo federal, da divisão da base aliada e da própria queda de popularidade da petista, que não se sabe se já chegou ao limite ou tem, ainda, mais pontos a perder.
Os solavancos políticos, que mencionei no início deste texto, ficam por conta do acirramento do movimento “volta Lula”, que ganha mais adeptos a cada dia, em especial entre aqueles aliados que não querem perder a “boquinha” na máquina governamental. Particularmente não acredito muito nessa possibilidade – embora entre o não acreditar e o fato consumado a distância seja bastante curta – até pela própria postura do ex-presidente, mesmo com a proximidade e obrigação de acionar definitivamente a luz vermelha do Planalto e do comando petista. Se a intenção do criador é continuar apostando em sua criatura, não há como desprezar a força dos apelos de correligionários, que entendem que é hora de uma virada de mesa. E isso é muito mais sério do que parece.
Nesse sentido é bom lembrar que, quando o fim de seu segundo mandato se aproximava, aventava-se uma emenda constitucional, muito defendida por alguns caciques do partido, para um possível terceiro mandato ao então presidente, muito comum aqui na América Latina. Ele sempre foi enfático em sua resistência a essa situação, muito mais casuísta e de puro fisiologismo do que propriamente a uma ação política de alcance prático. Mesmo com os índices de popularidade que apontavam para uma nova reeleição, caso ele assim o quisesse e uma proposta, nesse sentido, passasse pela Câmara e pelo Senado Federal. Entendo que Lula deva, agora, manter essa mesma postura sóbria de não querer avançar o sinal e tomar o lugar de sua pupila. O que seria um reconhecimento ao fracasso de sua aposta política, quando tirou a então candidata do ostracismo para uma eleição tranquila.
Seria prudente, também, que Aécio e Campos não subestimassem e nem desprezassem o potencial desse “volta Lula”. Em política, nem sempre dois mais dois são quatro.

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