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terça-feira, 20 de maio de 2014

A falta de educação nossa de cada dia

Tema recorrente em muitos textos que já escrevi neste espaço, seja nos artigos das terças-feiras ou nas colunas de quinta e domingo, a boa educação, representada num simples bom dia ou nas atitudes de cortesia ou apreço ao seu próximo, está cada vez mais ausente, dando lugar à conhecida “lei de Gerson”. Para quem não a conhece, ela teve origem numa criação publicitária, lá de 1976, para uma marca de cigarros, cujo slogan “eu gosto de levar vantagem em tudo. Leve vantagem você também” era apresentado pelo tricampeão brasileiro de futebol, o jogador Gerson. E o já tradicional “jeitinho brasileiro” ganhou roupagem nova, quando a propaganda ganhou as ruas e sua prática transformou-se em símbolo daquilo que o ser humano tem de mais desprezível: a falta de respeito para com seu semelhante. Seja ao furar uma fila de atendimento, ao não parar com seu veículo em faixas para pedestres ou  se julgar que é melhor que o outro e, por isso, precisa de mais atenção. Pura deficiência de caráter, que materializa o egoísmo latente em cada um de nós.
E não precisa ir muito longe para encontrar exemplos de ações dessa natureza. A mídia está recheada deles. E um dos mais corriqueiros está no uso das vagas preferenciais de estacionamento para pessoas idosas ou portadores de necessidades especiais, tanto em vias públicas, como no interior de estabelecimentos como shoppings e supermercados. Como mostrou matéria assinada pela jornalista Vanessa Osava, e que foi manchete da edição do último domingo desta Gazeta. E muitos ainda se julgam no direito de insultar e fingir que não ouvem, quando são instados a colaborar e deixar a vaga a quem de direito. E é uma parcela da população com características bem definidas, inclusive com padrões sociais e econômicos similares. São jovens sadios, adultos de boa aparência e mulheres, também nessas faixas etária e social, que mais praticam esse desrespeito.
Principalmente porque essas vagas são em menor número que as demais, e por isso merecem atenção especial. Não importa se se trata de uma parada rápida, ou por simples ignorância mesmo. O fato é que se ela foi regulamentada para um tipo específico de uso, e assim deve ser. Quando alguém busca tirar proveito de um benefício que não lhe pertence, está simplesmente retirando do outro o direito desse mesmo benefício. E tem similaridade incrível com a chamada “carteirada”, ou seja, aquela conversa fiada do “você sabe com quem está falando?”, num inequívoco desapreço ao artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que deveria ser o princípio básico da convivência humana: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Só que alguns se julgam mais iguais e, por isso, têm mais direitos. E isso tem outro significado: pobreza de espírito.
Se alguém pensa que tudo isso é exagero, deixo uma sugestão para que sejam observadores atentos do cotidiano. Com certeza se surpreenderão com essa crônica falta de educação.

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