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domingo, 18 de maio de 2014

A falência moral do homem e outros desvios

Primeiro, foi um adolescente – delinquente ou não, é o que menos importa – despido e amarrado a um poste no Rio de Janeiro; depois, a morte de menino de 11 anos, no Rio Grande do Sul, pela madrasta, uma amiga dela e o próprio pai; em seguida o linchamento de uma dona de casa no Guarujá, devido a uma publicação indevida no Facebook e, na última semana, um casal de irmãos, de 13 e 9 anos de idade, foi queimado vivo dentro da própria casa, por causa de uma dívida de R$ 500. Só para lembrar alguns desses tristes fatos, e que acabaram provocando repercussão na mídia nacional. Além de chocantes, todos esses crimes, a começar pelo jovem carioca, representam um distanciamento moral do ser humano com a realidade. Uma questionável e imprudente necessidade de se fazer justiça com as próprias mãos e, no caso do garoto gaúcho, a partilha de uma herança, deixada pela mãe verdadeira e cobiçada pela madrasta. E o fundo desse poço de maldades e desvirtuamento da racionalidade está além da nossa própria compreensão.

Crueza e realidade
E não há nada de novo nesses fatos, que acontecem diariamente pelo País e pelo mundo, apenas uma maior proximidade com eles, que a informação instantânea nos possibilita. Está mais fácil de sentir a indignação perante as cenas da barbárie e, também, assistir à necessidade que o homem tem de expor seus instintos, identificando-se com as imagens de horror que chegam facilmente a todos os lares.

Razão e consciência
Quando fica difícil conter essa catarse, que aos poucos se transforma em histeria coletiva, a fronteira entre realidade e ficção simplesmente desaparece, confundindo mentes e turvando consciências. O bom senso dá lugar à irracionalidade, que no homem deixa de ser a luta por sua própria sobrevivência e perpetuação da espécie, para se tornar simplesmente uma deliberada vontade de matar. 

Não está na receita
A sociedade não está mais e nem menos violenta do que em outras épocas. Está proporcionalmente adequada a esses tempos atuais. Essa análise preliminar é para mostrar que ela está melhor informada, e é o que faz a diferença entre o sim e o não. O sim à brutalidade consciente, e o não à violência explícita. Na verdade, é a demanda reprimida de Justiça legal que provoca esses graves efeitos colaterais.

A vida por um fio
Para não perder o foco, na última quinta-feira mais uma morte gratuita. Uma escrivã de polícia, numa cidadezinha do Maranhão, foi esfaqueada por um homem a quem ela iria indiciar por estupro. Assim caminhamos nós.

Cuidados e dever
A nós, jornalistas, cabe o papel de informar, sim, situações dessa natureza. Nunca, entretanto, fomentar e incitar ainda mais o consciente coletivo sobre o que é certo ou errado. Se assim o fizermos, teremos também muito sangue nas mãos.

Movimento tardio
Outro tema que ainda desperta paixões e ódio explícito, a Copa do Mundo no Brasil teve, na semana que passou, um teste interessante no quesito protestos contra sua realização. O movimento “Não vai ter Copa” – na realidade o correto seria “haver” – não vem conseguindo emplacar seus argumentos e tem levado muito pouca gente às manifestações. Bem ou mal, com obras concluídas ou não, o mundial entre seleções chega por aqui no próximo dia 12 e, só então, se poderá medir a força daqueles que pedem educação, saúde, moradia e segurança “padrão Fifa”. Interessante nesse processo todo é que, quando o Brasil foi anunciado como sede da competição, ninguém se manifestou sobre essa escolha. Já deu o que tinha que dar. Que venha a Copa.

Influência eleitoral
Sinceramente não acredito que o desempenho da seleção brasileira na Copa possa render dividendos políticos, tanto para a situação quanto para a oposição. Mesmo porque nenhum candidato terá coragem de se manifestar contrário a ela, justamente pela grande parcela do eleitorado ligada ao futebol. Nem Aécio ou Campos – ou qualquer outro – vai querer se indispor nesse sentido. Ao contrário, os protestos podem, sim, causar estragos na base governista. Perto de completar um ano daquele junho histórico de 2013, as manifestações, se bem organizadas e com foco definido, podem influenciar no pleito.

Mais que morto...
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deu partida, na semana que passou, à utilização do “volume morto” do Cantareira, para o abastecimento de água na Grande São Paulo.

Pergunta rápida

Até quando o governo do Estado vai esconder da população a verdade sobre a água?

Vai até novembro
A capacidade do Sistema Cantareira em operar o volume morto tem prazo de validade: novembro. Um mês após a eleição, portanto. O tão propalado choque de gestão do governo tucano paulista se esvai com a situação em que chegou o abastecimento de água em São Paulo. Sem investimentos e melhorias, o resultado já é sentido nas torneiras de muita gente. Exímio crítico de outros governos, o PSDB parece que não se deu conta de que também está na berlinda, por conta da gravidade do problema. Alckmin parece estar preparado para levar a situação em banho-maria, até 5 de outubro. Depois disso... Bem, depois do apagão com FHC, Alckmin deve fechar as torneiras após a eleição.

Nota curtíssima
O “Estado paralelo” representa a falência do Estado oficial. É artificial e muito perigoso.

O Tigrão na zebra
Para aparecer, políticos são capazes das ações mais inusitadas possíveis. E se o objetivo for o de chamar a atenção da “plateia”, eles não medem esforços.  Sexta-feira, 16h20. O trecho da Senador Vergueiro, entre as ruas Barão de Cascalho e Barão de Campinas, estava recebendo pintura de solo nas faixas de pedestres. O tradicional retoque, necessário devido ao desgaste natural que ocorre nas faixas brancas, pela exposição ao sol e água da chuva. Numa das esquinas pintadas, lá estava o vereador André Henrique da Silva, o Tigrão (PMDB), acompanhado de uma fotógrafa, fazendo poses, indicando a pintura. Ora abaixado, apontando diretamente para uma faixa, ora em pé, para toda a extensão da rua. E sem perder a pose junto aos eleitores, acenando para todos.

Frase da semana
"Na hora de a onça beber água, este país vai endoidar". Da presidente Dilma Rousseff (PT), sobre o sucesso da Copa, durante jantar com jornalistas esportivos no Alvorada. Sexta-feira, 16. No UOL Copa.

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