O barulho que está se fazendo com a implantação do Programa Mais Médicos, do governo federal, é tão desnecessário quanto absurdo e provinciano. E ainda corporativista. Como observador, entendo que há mais falta de diálogo - e aí de ambos os lados - do que qualquer outro entrave. Como será levado à prática via inscrição espontânea dos interessados e mediante alguns requisitos técnicos, continuo sem entender o que as entidades classistas dos médicos querem. Ao leigo, como eu, os argumentos até aqui apresentados não convencem. O único, que penso ser uma questão obrigatória e, esse sim, uma justificativa válida, é quanto à aplicação Exame Nacional de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras, o chamado Revalida. Como disse, para nós, leigos, a intensidade da Federação Nacional dos Médicos em tentar barrar na Justiça (até aqui sem sucesso) o programa federal, que pretende distribuir esses profissionais pelas periferias e regiões afastadas do País, torna-se antipática e pode ser analisada como falta de interesse em levar a saúde para o resto do Brasil.
Condições precárias
Se é uma briga política contra o governo petista de Dilma Rousseff e dos ministros da Saúde e Educação, passa a ser encarada como questão pessoal, que nesse caso penaliza as regiões carentes. Se a luta é pela melhoria das condições da sáude pública, não vejo como a rejeição e a tentativa de minar o programa possam, de fato, contribuir para reverter uma situação, que, sabemos, é de fato crítica.
E falta alguma peça
Esta pode, em princípio, parecer uma análise simplista da situação, mas a gritaria é tanta que tem alguma coisa que não está encaixando nesse processo todo. E pode refletir numa piora da saúde pública no País, que, como já disse, não é das melhores. Parece-me falta de engajamento. Penso que está na hora de deixar de privilegiar apenas os grandes centros. E conhecer melhor uma outra realidade brasileira.
É preciso conversa
Se houve imposição por parte do governo federal - e parece-me que esse é o maior obstáculo à aceitação do Mais Médicos - está havendo falta de humildade às associações, sindicatos, federações e confederação que defendem a categoria ao se negar ao retorno das conversações. E demonstrar, com boa vontade e interesse, que deseja participar desse processo. E aqui falo independentemente de cor ideológica ou partidária. Aos olhos da população, de uma maneira geral, vai ficar sempre a dúvida sobre o porquê dessa briga toda.
Repensar a atuação
Resolvi tecer esses comentários após uma experiência que tive, no interior do País, mais precisamente no sertão do Piauí, lá nos idos de 1978, que à época já refletia essa precária realidade do desinteresse.
Uma realidade dura
Por curiosidade inscrevi-me, em 1977, enquanto cursava o penúltimo ano da universidade, no curso de jornalismo, ao então Projeto Rondon (na sua versão original) e que era um programa da ditadura militar. Enfim, fiz o treinamento ao longo de um mês e fui um dos selecionados para uma Operação Nacional, a PRO XX, na cidade piauiense de Correntes, com outros universitários, em especial da área da saúde. Lá passamos por uma experiência triste. Na cidade havia dois médicos, pai e filho, de família tradicional, que atendiam na saúde pública, mas demonstravam pouco caso com pessoas humildes e realmente necessitadas.
Experiência de vida
Lá, atendiam quando tinham vontade e em muitos casos se negavam a esse atendimento, escondendo até mesmo equipamentos mais simples, utilizados para transfusão de sangue - o que quase levou à morte uma jovem que precisava da intervenção. Principalmente nos finais de semana, quando o futebol era uma diversão sagrada para eles. Só depois de muita briga - que quase me rendeu a expulsão do projeto - os médicos a atenderam. Não aconteceu o pior, mas sobrou o entendimento dessa dura realidade em áreas mais afetadas pela pobreza.
Será que mudou??
Essa realidade provavelmente não mudou em muitas regiões do País, que precisam, sim, de atendimento adequado e profissional. E lá se vão 35 anos dessa minha epopeia interiorana. Por isso, o que discorri acima não se trata de uma crítica aos médicos, que têm o direito e devem, sim, se manifestar por condições adequadas de trabalho. É, acima de tudo, uma mostra de que precisamos melhorar, e muito, além de todas as teorias. E isso começa com o entendimento das diferenças que existem Brasil afora. Das periferias ao grande interior nacional.
Mais humildade...
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, virou alvo de ataques. E com razão. Primeiro foi o uso de jato do poder público para assistir a um jogo da Copa das Confederações. Depois, a compra de um apartamento nos EUA, mediante criação de uma empresa para ter benefícios fiscais. Na semana passada, um total desapreço aos demais poderes constituidos, em críticas abertas. Tudo, evidentemente, desmentido pela assessoria de imprensa do próprio STF.
Pergunta rápida
Quando os três Poderes da República deixarão a troca de farpas de lado, para pensar no País?
Luz que acende
Bastante positiva a propositura da Mesa Diretora da Câmara para acabar com o recesso - nome chique dado às férias dos políticos - de julho no Legislativo Municipal, conforme mostrou esta Gazeta na sexta-feira, em matéria da jornalista Érica Samara da Silva. Afinal, é a única categoria que tem esse tipo de descanso duas vezes no ano. E olha que, até pouco tempo atrás, era o mês de julho inteiro. Enfim, nunca é tarde para corrigir imoralidades - mesmo que estejam dentro da legalidade. O projeto será lido na primeira sessão da Câmara pós-recesso, amanhã. Depois será submetido às comissões da Casa e, em seguida, vai a votação. Dado o momento político pós-manifestações, acredito que os vereadores aprovarão a proposta. E por unanimidade. Taí uma verdadeira prova de fogo.
Nota curtíssima
Quando a esmola é demais, o santo olha para o lado, pega o dinheiro e finge que não é com ele.
Custando menos
Desde o último dia primeiro, a tarifa do ônibus urbano está R$ 0,10 mais barata. De R$ 2,85, caiu para R$ 2,75. A questão, entretanto, não é apenas a redução no valor da passagem, mas na qualidade dos serviços. E, principalmente, como de fato vai funcionar o subsídio público às empresas. Ainda não está claro. A população com certeza agradece essa queda, mas quer melhorias nos serviços.
Frase da semana
"Nove, em cada dez presos no Carandiru, foram mortos com tiros na cabeça". Conclusão do Ministério Público, no julgamento dos PMs no massacre do Carandiru. Sexta-feira, 2, na Folha de S. Paulo.
domingo, 4 de agosto de 2013
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