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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Justiça. Ainda que tardia. Não à hipocrisia

Causa e consequência são irmãs gêmeas, separadas no nascimento. Às vezes é mais fácil justificar a origem de uma situação, do que prevenir seu próprio efeito. E quando isso acontece, não há como evitar o excesso retórico de muitos ou a indignação de outros tantos. E nem controlar o próprio impulso crítico, fechando os olhos sem querer enxergar a realidade, que é dura e implacável, tanto para os réus como seus algozes. Abster-se em analisar a história como um todo e não fragmentada, é um exercício complicado, que invariavelmente vai desembocar na hipocrisia, que passa a borracha no passado, açoda o presente, para tirar benefícios no futuro.
Quem acompanha o julgamento da Ação Penal 470, batizado políticamente de mensalão do PT, sem paixão ideológica, percebe uma febre que acometeu muitos formadores de opinião, entre a mídia de um lado, e o envolvimento político-partidário, do outro, que beira o fanatismo. Ao radicalismo fundamentalista, que alimenta os hipócritas e a ignorância política sem propósitos. Há muito tempo não se via uma interação dessa natureza, clamando por justiça (ou seria justiçamento?), envolvendo políticos da então base aliada do governo Lula, publicitários, empresários e lobistas, naquilo que acabou se transformando num dos maiores escândalos de compra de apoio político, que se tem notícia da história recente do País. E que virou notícia. Sem entrar no mérito da questão de cada voto proferido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, criando no inconsciente popular heróis extremados e vilões execrados, na condenação ou absolvição dos indiciados, o que todos esperam é uma punição exemplar aos condenados. Mesmo que seja impossível imaginar um ponto final na corrupção, há que se continuar no seu combate.
Justamente o que não aconteceu, também em passado recente, quando agentes palacianos arregimentavam (e que cada um entenda como quiser o significado dessa palavra)  parlamentares, pela aprovação da Emenda Constitucional da reeleição para cargos de prefeito, governadores e presidente da República, mas que tinha um endereço específico, a recondução do tucano Fernando Henrique Cardoso ao cargo que já ocupava. Que foi notícia à época, porém, não ganhou as dimensões ou mobilização suficientes, para levar ao banco dos réus, corruptores e corruptos, que saíram ilesos. Muitos deles ainda gravitam em palácios governamentais com pompa e agora travestidos de paladinos da ética, exigindo cabeças, que poderiam ser as deles próprios. Casos assemelhados, tratados de forma distinta. E se alguém pensa que mensalões, mensalinhos ou qualquer que seja o nome de batismo que tiverem, acabam nesse julgamento, está enganado. Eles continuam, como aconteceu lá atrás, e se fez vistas grossas. Disfarçados em outras fórmulas, nos municípios, estados e Federação, malas-pretas, cuecas recheadas e dinheiro vivo em envelopes ainda resistem às barganhas políticas. O que se espera é que a justiça feita hoje (a mesma que deveria ter sido feita lá atrás) iniba novas transações nos esgotos da política

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