Pouco a pouco e sem muito alarde o Supremo Tribunal Federal (STF) vai devolvendo mandatos eletivos a fichas sujas da política nacional, que mesmo eleitos foram apeados de seus cargos e impedidos de assumir, pela chamada Lei da Ficha Limpa. As decisões que tiraram os mandatos desses políticos acabaram sendo derrubadas no SFT por entendimentos jurídicos, mediante recursos impetrados junto à Suprema Corte nacional. Foram devolvidos aos cargos, por exemplo, dois senadores: o amazonense Jader Barbalho (PMDB) e o paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), para citar os mais expressivos e conhecidos, entre aqueles que aguardavam tal decisão. Outros também já recuperaram as vagas perdidas e dessa forma o Supremo passa um detergente na sujeira, garantindo a limpeza legal, porém, imoral do ponto de vista ético, daqueles que deveriam estar na cadeia e não ocupando tribunas e batendo no peito, alardeando honestidade, integridade, etc. e tal.
E o que deveria ser um começo de moralização acaba na vala comum dos recursos judiciais, que contam muito com a habilidade e conhecimento dos meandros dos tribunais, das grandes bancas do Direito brasileiro.
Por aqui, uma Lei da Ficha Limpa também tramita na Câmara Municipal, em projeto de iniciativa popular, que concorre com outro, da mesma ordem, com origem no Poder Executivo e finalidade de apenas ofuscar o primeiro e acobertar aliados de plantão que poderiam ser enquadrados. Os vereadores, evidentemente, optarão pelo segundo, mais para garantir a impunidade do que para reverter esse quadro crônico, reincidente e danoso que avança sobre todos os níveis do poder público e vem sendo exibido à exaustão em horário nobre das emissoras de TV, nos jornalísticos de rádio e na mídia impressa. Triste imagem na nossa involução política. E desprezo grosseiro à opinião pública.
Duas situações muito parecidas, que antes de desmoralizar os verdadeiros e contumazes fichas sujas, acabam por nos impor a vergonha da convivência pacífica com quem, no mínimo, deveria estar a léguas do exercício da política. Há, entretanto, alguma coisa que destoa de todo esse processo: a forma com que tratamos essa situação. Pois de nada adianta protestarmos e aderirmos a movimentos sociais pela legalidade, se na hora da escolha optarmos sempre por manter o status dos que estão lá no topo da cadeia política. Somos também responsáveis por tudo isso. Leis estarão sempre sujeitas a interpretações. Nossas escolhas, não. E se nós, eleitores, não tomarmos definitivamente a frente pela mudança, ela não virá nunca pelas mãos de políticos. Somos nós, efetivamente, que vamos determinar quem é e quem não é um ficha limpa. Ou suja. Mais que um direito, é uma obrigação. Chega de hipocrisia.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
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