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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A razão e a inteligência que faltam ao PT

Numa simples (mas esclarecedora) entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, no último domingo, a senadora petista e ex-ministra da Cultura da primeira gestão do governo Dilma Rousseff (PT), Marta Suplicy, fez severas críticas ao partido, e à própria presidente. E o fez com a categoria e autoridade de quem ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, a grande novidade dos anos 1980 e que vinha com o diferencial da ética em relação às demais agremiações partidárias. Lutou por isso, desempenhou importante papel no complemento da transição política e foi conquistando espaço entre formadores de opinião e intelectuais, que ajudaram a dar um perfil teórico à sua origem, lá no chão de fábrica da Volks e no Estádio da Vila Euclides, em São Bernardo, hoje batizado de Primeiro de Maio.
Não é a primeira vez que a ex-prefeita de São Paulo faz duras críticas ao partido. Já o fizera antes. No que tem razão. Pois apesar das tendências políticas que lhes davam sustento, muitas até conflitantes em seu viés ideológicos, levarem o partido ao crescimento e sucessivas conquistas, que hoje o colocam como mais longevo na Presidência da República, após o fim da ditadura militar e o retorno das eleições diretas. Aos poucos, porém, houve um desvirtuamento das propostas, o que colocou o PT no mesmo patamar dos outros partidos. Tornou-o o mesmo dos demais, dando início ao fim de seu glamour até então conquistado, eleição após eleição, e perdendo figuras ímpares na política e também na intelectualidade. Virou comum.
Por isso Marta Suplicy tem razão. Não sei se a ponto de acabar, mas ao enfraquecimento contínuo, apesar da força que ainda tem. Mesmo com todos os percalços enfrentados, como o mensalão e agora o escândalo da Petrobras. Outros partidos, como o próprio PSDB, também passaram por isso, porém, de forma menos midiática, o que lhes confere certa aura, mas os fundamentos, a se analisar pelo lado prático – e aqui nem falo das questões éticas – não diferem em nada uns do outros. E nesse ponto, é bom lembrar que antes se jogava tudo para debaixo do tapete. Muito do que ocorreu no pré-PT nem chegou à mídia ou, se chegou, não foi tanto explorado. Foi engavetado antes de se tornar público, o que garantiu certa blindagem a todos que compartilhavam do processo político naquele momento.
Voltemos, pois, à entrevista da senadora petista, que resolveu metralhar alvos definidos. E acertou na mosca. Não deixa de haver um pouco de ressentimento por parte dela, por sucessivos boicotes dentro do partido, principalmente da figura do seu presidente, Rui Falcão (um deles), mas suas palavras deverão ecoar mais que esperaria a direção do PT. Se ela acertou no diagnóstico de que é preciso mudar e irritou várias instâncias partidárias, é porque há uma ferida aberta. Um descompasso entre o querer e o continuar a ser o PT de suas origens. O que, cá entre nós, seria impossível, porém, não se escancarar tanto ao acaso. O PT perdeu a virgindade quando ascendeu ao poder, mas não perdeu sua ingenuidade. E o exemplo mais próximo de nós é justamente o PT limeirense. Mudança significa inteligência, e não capitulação. Se Marta Suplicy sabe disso, o PT também sabe. Só é preciso admitir

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