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terça-feira, 15 de julho de 2014

Fim do “fair play”. Vem aí a campanha eleitoral

Desde que o Brasil deixou de ser a “pátria de chuteiras” – e isso vai longe no tempo – a tentativa de capitalizar para a política os resultados do futebol caiu de moda. Não funciona mais o “quando a Arena vai mal, um time no nacional”, frase cunhada na década de 1970, período em que País se dividia no bipartidarismo da Aliança Renovadora Nacional (a Arena, o pilar político da ditadura) e o oposicionista (?) Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que começava a avançar e a preocupar os generais. Explico. Nesse tempo, o Brasileirão, que ainda não tinha esse nome (chamava-se Campeonato Nacional), chegou a inchar de tal forma, chegando a mais de 90 times na primeira divisão. Em especial nos estados em que a insatisfação com o governo era maior e os sinais de enfraquecimento do partido eram visíveis.   
Se o golpe militar soube fazer da conquista do tricampeonato mundial de futebol na Copa do Mundo de 1970 uma grande vitrine publicitária, isso não aconteceu nos anos subseqüentes. Com os resultados em baixa a partir de 1974, os gritos da tortura começariam a ser ouvidos com mais intensidade, a situação política se deteriorava e, dessa forma, quebrou-se o elo entre futebol e política. As conquistas da seleção brasileira, de 1994 e 2002, em nada influenciaram os resultados das urnas. Tanto que Fernando Henrique Cardoso se reelegeu em 1998, com a derrota para a França no mundial daquele ano, e não conseguiu fazer seu sucessor em 2002, nem mesmo com o Vampeta dando cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto.
Não acredito que seja diferente neste ano, que teve Copa no Brasil e a seleção brasileira foi humilhada pela Alemanha na semifinal e perdeu o terceiro lugar para a Holanda. Derrota que não será capitalizada por nenhum partido ou candidato. Assim como se a conquista do hexa tivesse sido alcançada, não seria capitalizada pelo governo. A expectativa dos brasileiros é quem ditará o resultado das urnas, independentemente desses trinta e dois dias que “acalmaram” os ânimos nacionais. Mesmo porque nenhum político terá coragem de fazer dessa derrota mote de campanha. Querer alinhar o humor do povo ao que houve dentro dos gramados é de uma ingenuidade, que somente o despreparo político pode traduzir. E os que prognosticavam o caos fora deles, falharam desde a abertura do torneio, alavancado pela imprensa internacional – e pelas próprias seleções – até então crítica e extremamente descrente com a segurança, mobilidade urbana e infraestrutura aeroportuária. E tudo o que foi feito de errado, as obras inconclusas e os gastos exagerados, mesmo não tendo influenciado no resultado final e na grandiosidade do evento, terá que ser discutido a partir de agora. E com a seriedade que realmente merece. Não na superficialidade da política partidária. Com o fim da Copa tem início o ano eleitoral, que promete. E entre mordidas e joelhadas, a campanha será mais Suárez e Zuñiga do que Messi ou Neymar.

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