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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sem tiros ou baionetas. Apenas papel e caneta

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Esta foi, na semana passada, uma das frases mais compartilhadas nas redes sociais (e pela mídia, de uma maneira geral), após a morte de seu autor, o ex-presidente sul-africano e Prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela, na quinta-feira. Não só pelo seu significado, mas pela força que tem – ou deveria ter - na realidade de todos os povos, é quase uma verdade incontestável. O quase, neste sentido, é uma figura de linguagem de uso muito particular, ao se levar em conta que a verdade absoluta está além da compreensão do ser humano. Sempre vai ficar faltando uma vírgula na sua interpretação.
Não deixa, entretanto, de ser uma expressão viva, real, daquilo que todos deveriam ter escrito, em letras douradas e permanentes, em suas consciências. Se assim não é, é por que ainda há alguma interferência, um ruído – como costuma-se dizer na comunicação – que embaça a sua clareza. Às vezes, uma névoa espessa e proposital, que inibe sua compreensão, pois a partir do momento em que o homem entende o que de fato a educação representa como ferramenta para a transformação da sua vida, ele estará dando um basta à ilusão patrocinada por aqueles que fizeram, um dia, o juramento de governar e legislar pelas causas nobres e pelo bem comum da sociedade. A educação revela o lado crítico do homem, que vai se indagar, sempre, sobre suas certezas, para aplacar as suas incertezas.
E essa consciência crítica é tudo que o mal governante não quer para o povo que governa.
É a educação que combate a alienação, princípio básico utilizado para a manutenção do poder. Quanto maior a ignorância, maior será o sucesso da tirania, das ditaduras, que ainda resistem à invenção da democracia. E das democracias perrengues, que apesar de elegerem seus políticos, continuam distantes das garantias às liberdades individuais, que caracterizam o grau de desenvolvimento – e de envolvimento também – de sua população. Não passa de grossa maquiagem, muito utilizada para esconder as rugas do envelhecimento - que acabam por promover essa indiferença aos problemas políticos e sociais – que sempre voltam a aparecer aos primeiros sinais de limpeza. Educação é a água e o sabão que vão lavar essa maquiagem, para expor a verdadeira face do atraso.
Este, entendo, é o sentido da frase de Mandela, que lutou contra o regime de segregação racial imposto ao seu próprio país – e por isso ficou 28 anos preso – por um regime de minoria branca, numa nação predominantemente formada por pretos. Uma verdadeira aberração cultural, que países colonizadores sempre tentaram, e ainda tentam, incutir àqueles que se permitem ser colonizados. Ou pelo poder bélico, ou pela ausência da “poderosa arma” citada pelo líder sul-africano: a educação.
Vivemos uma espécie de entressafra de líderes naturais, com a grandiosidade de raciocínio e a percepção das coisas mais simples a que um homem tem direito. Isso nos obriga a buscar, nos exemplos deixados por Nelson Mandela, a verdadeira compreensão da natureza humana. Ele conseguiu transformar o seu mundo. Quando conseguiremos transformar o nosso?   

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