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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Do discurso à negação da realidade

O discurso político é fácil, fluente e caminha sempre na mesma direção independentemente da cor partidária ou viés ideológico. Todos seguem em uníssono e é agradável aos ouvidos do cidadão, do eleitor que está cansado de ser ludibriado, mas não perde a esperança em poder contar, em algum dia lá no futuro, com a autenticidade de suas palavras. Das letras escritas em roteiros, que representam a ética, a moral, o desenvolvimento e as necessidades da população, que invariavelmente acabam ficando à mercê de uma prática completamente contrária aos seus conteúdos.
E quem não pode fazer aquilo que prega, não pode nunca atirar a primeira pedra, com o perigo de ela ricochetear e voltar ao ponto de partida. Hoje temos dois discursos predominantes na política nacional. O do PT e o do PSDB. Muito parecidos, quase idênticos. Ambos se engalfinham em acusações mútuas, e nas defesas acaloradas de suas ideias, porém, longe da postura que deveriam ter no trato com a coisa pública. Enquanto na oposição, o PT sempre foi fiel a uma retórica recheada de compromissos com a transformação social e contra as velhas práticas fisiológicas, que caracterizavam os demais partidos. E ainda caracterizam. E como ninguém, o Partido dos Trabalhadores sabia fazer oposição.
Hoje, na situação, não só no governo federal, como em importantes cidades e estados brasileiros, o partido fundado por intelectuais da mais alta estirpe e por trabalhadores comprometidos com as causas de seus iguais, esqueceu-se de sua história e trajetória. Caiu na armadilha do fisiologismo – percebeu que não governaria se não deixasse seu purismo de lado – e agora está refém dessa transformação. Governar é preciso, sim. Abrir-se às práticas tão criticadas por seus idealizadores (muitos dos quais hoje fora da legenda) foi um insulto àqueles que comungavam de seus ideais. A política é a arte da negociação, mas não pode se render ao caminho fácil da negociata. É preciso quebrar as pedras.
E, na oposição, e com as mesmas falhas éticas dos demais, o PSDB vem, desde que perdeu o Planalto, atirando a primeira pedra, mesmo não isento de seus próprios pecados e com forte carga de apelo à integridade política – dos outros – o partido, tal qual o peixe, também morre pela boca. Assim que estourou o escândalo do propinoduto tucano, nos trilhos da CPTM e do Metrô, num primeiro momento houve uma negação e uma tentativa de politizar as investigações. Com o bonde – me desculpem o trocadilho – das investigações andando, o discurso começou a mudar de tom, dando lugar à falácia. “Vamos investigar a fundo e punir os culpados”, bradou o governador tucano Geraldo Alckmin, acompanhado por seu par e ainda pré-candidato à Presidência da República, o senador mineiro Aécio Neves, o que mais tem vociferado em suas aparições midiáticas. Tudo em vão.
Useiro e vezeiro em querer convocar ministros e afins, o PSDB mostra sua face. Igual a dos demais. A base de Alckmin na Assembleia paulista blinda o governo, barrando investigação mais profunda. Foi manchete da Folha de S. Paulo de ontem. A máscara tucana perdeu o bico e expôs a garra afiada de uma ave de rapina. Se o hábito faz o monge, ambos, PT e PSDB, estão com suas vestes sujas e rasgadas. Um bom Natal a todos.  

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