Encontrar culpados é fácil. E uma receita simplista, que sai da consciência de muita gente, dá cor e sabor à mistura: basta escolher uma dezena de jovens, empunhando garrafas de bebida barata ou no auge do efeito de drogas, a segregação e a intolerância de mais uma dezena daqueles que se julgam bem-nascidos e, apenas eles, dignos da cidadania, e está pronto um coquetel explosivo, que a cada dia ganha novos consumidores, forjados em exemplos diários de rebeldia aparentemente irresponsável. Apenas aparentemente.
O problema é grave e não é de fácil solução, mas passa necessariamente por investimentos em políticas públicas, que deem oportunidades à expressão desse descontentamento, para transformar os anseios de uma juventude que, ao não encontrar respostas naqueles que deveriam se preocupar com ela, cai nas graças de condutores da marginalidade, prontos a dar guarida e recebê-la com status de poder e majestade. E a lógica desses jovens acaba se transformando em música aos ouvidos desse poder paralelo, que todos sabem que existe. E essa lógica é mais ou menos assim: ora, se não me respeitam como cidadão e não tenho oportunidades e nem perspectivas de um futuro adequado e que me garanta a igualdade de condições na sociedade, há quem possa fazê-lo; vou procurar outra “tribo”.
Uma praça de guerra. Pânico espalhado ao longo de uma rua, e uma solução que não chega nunca. Tudo isso resume os atos registrados na noite da última sexta-feira, 20, no interior do Pátio Limeira Shopping e, no dia seguinte, no rescaldo dos estragos e prejuízos que sobraram por trechos da Rua Tiradentes, pelo sábado de manhã. É um cenário que ilustra de forma objetiva os dois parágrafos acima, e que não é coisa nova para ninguém. Vem se arrastando por anos a fio, e se alastrando a uma velocidade assustadora e quase – ou praticamente – sem controle.
Os chamados “points”, são o ponto final desse descontentamento e da ausência do poder público na vida desses jovens, que se reúnem em grupos compostos em sua maioria por menores, cujos “tutores”, maiores (referência à idade de responsabilidade penal), se encarregam de acender o rastilho de pólvora, fornecendo o combustível necessário a isso: bebidas e drogas. E antes de se integrarem de forma harmoniosa e na troca de experiências entre eles, acabam por se rebelar, pelo próprio sentimento de inferioridade que a própria sociedade lhes impinge. Não se pode, também, querer segregá-los apenas às suas condições social, econômica e geográfica, pois estaríamos criando verdadeiros guetos, o que em nada contribui à interação social.
Dentro ou fora de suas localidades de origem, todos merecem oportunidades iguais de estar juntos, divertir-se e, nessa interação, se desenvolver como seres humanos, para que possam ter o direito preservado e conhecer a responsabilidade do dever, para consigo próprio e para com seus semelhantes. Não existe solução mágica, mas o primeiro passo é – como escrevi lá no início deste texto - dar voz e esses grupos, para conhecê-los e às suas aspirações. E, a partir daí, buscar os melhores caminhos para atendê-los. Caso contrário, os “points” apenas mudarão de lugar, mas o conceito será sempre o mesmo.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
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