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domingo, 23 de junho de 2013

Considerações sobre uma "revolta" popular

Nestas últimas duas semanas venho acompanhando as manifestações públicas, que começaram a ocorrer pelo Brasil. A semente lançada ao solo pelo Movimento Passe Livre (MPL), em SP, que reivindica isenção nas tarifas do transporte coletivo para estudantes, mas nesse primeiro momento lutava pela não aplicação dos aumentos anunciados, tanto para o Metrô como para os ônibus urbanos, se espalhou pelo País, transformando em reação o descontentamento da população com os desmandos das administrações públicas, desde o governo federal, passando pelos Estados até chegar aos municípios. A revolta contida, e até então adormecida, entre nós. Procurei, nesse período, ler opiniões e comentários - favoráveis e contrários também - para fortalecer meu próprio pensamento. Procurei deixar de lado estudos teóricos sobre lideranças e movimentos sociais, justamente para não comprometer esse raciocínio e não torná-lo formal. E foi justamente essa falta de formalidade - melhor definindo, espontaneidade - que me atraiu desde o início. Há, entretando, um risco sério nesses movimentos, que é a infiltração indevida.

O novo movimento

Diferentemente do movimento Diretas Já, ocorrido entre 1983 e 1984, ainda na vigência de uma agonizante ditadura militar, e das manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, com a saída às ruas dos "Cara Pintadas", ambos com lideranças formais e políticas, a base desse recente processo é espontânea. Sem uma referência específica, de cunho personalista.

O caminho se abriu

Não há como negar que é difícil manter um movimento dessa natureza sob controle. Principalmente por seu caráter "apartidário", que pode ser um porta de entrada para oportunistas, principalmente da direita radical, do fascismo oculto nas bandeiras brasileiras que levam amarradas às costas. Um ação típica de um nacionalismo confuso, mas que neste momento também não interessa a ninguém. 

Pensamento linear
Muitos teóricos, e com fortes componentes político-partidários, defendem que a ausência dessa liderança formal comprometerá os próximos passos desse movimento, pois acaba tornando difícil a interlocução com outros segmentos envolvidos e sua própria estrutura física. E pode provocar dispersão, na busca por novos objetivos. É possível, sim, tal arrefecimento. Principalmente se o movimento partir para o descontrole, como buscar novas bandeiras de luta de forma aleatória. Por isso, é preciso cuidado e atenção aos próximos passos.

Partidos ainda não

A negação e o desprezo com partidos podem indicar forte componente extremista, que foge das características de movimento popular e podem terminar em outras vertentes indesejáveis. Os partidos precisam mudar.

Explicação simples
Iguais em formação, pela preponderância de intelectuais e políticos afeitos ao pensamento ideológico, PSDB e PT - ou vice-versa - deixaram de ser adversários para se tornar inimigos. E inimigos fazem guerra. Adversários conversam. Estão preocupados apenas com a manutenção do status de poder, pelo qual ambos tentam a manutenção dos centros que governam e, preferencialmente, avançando sobre as trincheiras do outro. É justamente isso que enfraquece a estrutura partidária e faz com que o caminho fique aberto a certas aventuras políticas, indesejáveis no atual momento do País. E os aventureiros não faltam. Estão por aí, em qualquer lugar.

Cansaço; descrença
Pela lógica dos manifestantes, e isso é o que tenho sentido nesses últimos dias, ao evitar essa via, eles estão minando as forças partidárias e também políticas de governantes e legisladores. Uma forma de impor respeito e, daí para a frente, chamá-los ao diálogo. O desejo é desarmar essas forças institucionais, não para derrubá-las, mas para que possam conversar sem o objetivo de tomar para si o comando desses movimentos. Acredito que nem PSDB, PT, ou outros partidos mais ideológicos desejem isso agora. Por isso é a hora da mudança.

A insatisfação geral

Movidos até por propósitos e objetivos diferentes, o que caracteriza a espontaneidade desses movimentos, os protestos se alastraram e, aos poucos, vão tomando conta de muitos municípios. Em Limeira a mobilização reuniu milhares de pessoas e foi uma das mais pacíficas registradas até agora, nas várias regiões do País. Pequenas e esporádicas ações, movidas pela estupidez de poucos, não foram suficientes para estragar essa verdadeira festa da cidadania. Que começou pacífica e terminou da mesma forma, nas dependências da Câmara Municipal.

Sem partidarização

Uma ou outra tentativa de partidarizar os protestos, pelas redes sociais, não foram bem-sucedidas. O que não dá o direito a ninguém de proibir que esses militantes participem também. Uma ruptura na ordem democrática, agora, só tende a favorecer justamente a radicalização. Aquela que vai mascarada, depreda, não tem apreço às opiniões contrárias ou pretende descaracterizar a natureza dos protestos. Correntes conservadoras, que fazem do Hino Nacional apenas um escudo.

Pergunta rápida

Por que os organizadores do movimento não querem falar com a imprensa?

Silêncio barulhento

Uma coisa, porém, é certa. Todas essas manifestações que estão se espalhando rapidamente País afora, começam a causar incômodo aos agentes políticos, que têm procurado, na maioria da vezes, a via da omissão ou da fuga. Aqui em Limeira, por exemplo, a Prefeitura dispensou seus funcionários por volta das 16h e fechou suas portas. A única comunicação foi de que o Jornal Oficial do Município não circularia no dia seguinte (última sexta-feira, portanto). O prefeito Paulo Hadich (PSB) não emitiu nenhuma nota ou comentário que pudesse dar um indicativo de suas ações. Em algum momento, entretanto, tais agentes terão que assumir uma posição definida.

Nota curtíssima
Minha impressão. Num dado momento, na Câmara, o movimento parecia ganhar contornos partidários. Dá para refletir.

E no cara a cara...
... o presidente da Câmara, vereador Ronei Martins (PT) merece ser elogiado. Apesar de toda a hostilidade contra ele e os demais vereadores, se postou à frente do plenário e, com os demais sentados nas escadas, procurou o diálogo. E não permitiu a intervenção e nem ameaçou os manifestantes de retirada do local, como foi muito comum por aqui. A postura dos demais vereadores também não pode ser ingorada e entendida como sinal de diálogo. Aguardemos o próximo capítulo.

Frase da semana
"Temos que sair às ruas, só assim mudamos este país". De mulher, que estava acompanhada do marido e participava dos manifestos com uma camiseta contra a PEC 37. Na sexta-feira, 21. Na Gazeta de Limeira.

3 comentários:

Assis Rondônia disse...

O TREM DE FERRO E A GRANDE SACANAGEM DESENVOLVIMENTISTA

Ninguém ignora haver o Brasil chegado à fase republicana através de um golpe dado na monarquia representada por D. Pedro II que, com seu travesseiro de terra fora convidado a se retirar para sua terra no além-mar. Ao se estabelecer a nova cara de uma nação abaixo do equador, já no governo principiante mostrou a corrente liberal-democrática, de Campos Sales, Rui Barbosa e Prudente de Morais, toda a sua força para ditar o regime presidencial e a separação dos poderes nos moldes americanos. Os mesmos que de posse de um título invisível, de propriedade deletérea, transmitido pela Grã Bretanha, esta, Senhora que tudo destruiu nesse país chamado Brasil e o filme "Mauá: O Imperador e o Rei" bem mostra e os jovens deveriam assistir e refletir;e as academias de direito, envenenadas pela estupidez da "introdução à ciencia jurídica" deveriam promover estudos dirigidos de debates na busca de lampejos do saber, quem sabe adormecido no possível e futuro bacharel. Assim teriam os bacharéis a compreensão de que a corrente liberal daqueles dias é a mesma de 2010, subsumida na Frente Liberal (PFL), atual Democrata (DEM), legítimos representantes dos grandes latifúndios, cujos proprietários – 8% da sociedade – detém 80% de todas as terras cultiváveis.

Essa mesma Grã Bretanha que,

(...) comprava nossas colheitas e vendia-nos tudo, desde as roupas, os remédios, as madeiras para construção de casas, telhas, queijos, manteiga, sal de cozinha, doces de conserva, perfumes, louças, carvão para gás de iluminação, enxadas, martelos, pregos, enfim, praticamente tudo que era essencial à própria sobrevivência da burguesia.

Quando você pergunta sobre o trem de ferro e o por quê de sua ausência como meio de transporte, é possível ser respondida a indagação acreditando que não há governantes e políticos preocupados com o que lhe possa ser bom; não é para isto que você os elegeu, no entendimento deles, os safados, mas para que possam fazer tudo o quanto lhes possam render frutos e dividendos, mesmo quando o empresariado "nacional" leva a vantagem, pois, na eleição seguinte esse mesmo político vai apresentar a sua fatura, e muitas vezes recebe agora, já, a sua parte, às vezes aparecendo a "contribuição" lá nas Ilhas Caimãs. Você que se interessa pela beleza e utilidade do trem de ferro, saiba: "não existe almoço grátis". É tudo uma grande sacanagem comercial e você é somente um tubo digestivo que consome porcarias industrializadas na forma de bolachas, bolos, enlatados e refrigerantes, tudo com impostos de 35% e 45%. Você é uma máquina de consumo que carreia as guloseimas para a privada. É uma função triste e árdua que você cumpre à risca, conforme o mandarim da publicidade rádiotelevisiva.

Você sabe por que ocorreu a Revolução de 1930? O site mudovestibular, diz que,

A partir de 1930, a indústria passa a ser o setor mais prestigiado da economia, concorrendo para importantes mudanças na estrutura da sociedade. Intensifica-se o fluxo migratório do campo para os centros urbanos mais industrializados, notadamente São Paulo e Rio de Janeiro, que, adicionado ao crescimento vegetativo da população, proporciona uma maior oferta de mão-de-obra e o aumento do consumo.

Mas não diz toda a verdade: por trás da Revolução de 3 de outubro de 1930, estava uma intensa campanha Norte Americana para resgatar o quintal Brasileiro como mercado seu. Conforme Osny Pereira Duarte, "Vários dirigentes da Revolução tornaram-se, em seguida, diretores de empresas de Rockfeller, do grupo Mellon, da General Motors, bem como de outros grupos financeiros de Wall Street, que atuaram no Brasil."

E a Revolução de 1932, você sabe do fundamento verdadeiro?

http://textolivre.com.br/livre/ensaios/37569

Abraços
O TREM DE FERRO E A GRANDE SACANAGEM DESENVOLVIMENTISTA
textolivre.com.br

Antonio Claudio Bontorim disse...

Obrigado pelo comentário.
Aqui todos têm direito à livre manifestação do pensamento e ao debate das ideias.

Antonio Claudio Bontorim disse...

Sinta-se à vontade, como a todos os demais leitores, para fazer seus comentários, cujo objetivo é enriquecer ainda mais os textos postados.