O ano de 2012 ainda não acabou. Está por apenas dois dias, mas apesar
dos percalços e das vergonhas, foi exemplar do ponto de vista da ética e
do combate à impunidade. Não pretendo entrar naquele velho chavão do
'poderia ter sido melhor', porque entendo que foi o possível. Se nem
tudo é como a gente deseja, pelo menos quando observamos e avaliamos
resultados práticos, lá estão muitas conquistas, que renovam a crença
nos homens e nas instituições. Para Limeira foi um ano de muita
vergonha, no sentido da exposição negativa na mídia nacional, por conta
da cassação do prefeito Silvio Félix da Silva (PDT). Vergonha que
sentiram os limeirenses ao perceber a podridão e o mau cheiro da
política rasteira e lesiva até então. E para superar essa vergonha, veio
o orgulho em participar e, na mobilização popular, jogar a corrupção no
seu devido lugar: o esgoto. Foram dias didfíceis até aquele 24 de
fevereiro, com alternância nos sentimentos, ora positivos, ora
negativos, em relação ao futuro da política local. Um momento único na
história de Limeira. De vitória sobre os desmandos e improbidade
públicos.
Decepção aparente
Nos primeiros momentos, ainda incrédula, a população que elegera Félix
tentava entender e assimilar a decepção, que tomava conta de todos. Após
esse impacto inicial, poucos acreditavam em punição efetiva, dado o
histórico dos conchavos e da falta de credibilidade de políticos, que
sempre se serviram do poder e dele tiravam vantagens pessoais, antes de
servir o povo. Antes de pensar no bem comum.
Participação ativa
Em meio à frustração de ver jogada no lixo a confiança, que refletia em
votos nas urnas, os limeirenses começaram a reescrever sua própria
história. E, aos poucos, sempre dentro da ordem e da legalidade, davam
início a uma mobilização, que começou tímida, mas foi crescendo e
atraindo pessoas, cujo interesse era dar um basta ao lastimável estado
de deterioração, protagonizado por agentes públicos locais.
Resposta prática
Felizmente, ao perceber o fôlego renovado das manifestações populares, a
maioria necessária dos vereadores na Câmara Municipal deu o recado
esperado, apeando o então prefeito do poder. Os que resistiram, foram
julgados nas urnas, sendo também apeados do poder pelo voto popular.
O esforço conjunto
Nada disso teria sido possível sem a atuação precisa do Ministério
Público Estadual (MP-SP) nas investigações, cuja conclusão levou membros
da família Félix e seguidores à prisão. E com o aval do Poder
Judiciário provas irrefutáveis preencheram páginas e páginas de um
processo sólido, tão óbvio, que até agora nenhum recurso favorável ao
prefeito cassado foi aceito em instâncias judiciais superiores. Até o
velho chavão da "perseguição política" foi abandonado pelos réus.
Para não esquecer
Não há melhor retrospectiva para Limeira do que essa sensação de
limpeza e do fim de um período obscuro, em que se usou e abusou das
palavras e da propaganda para tentar encobrir as negociatas, feitas nos
gabinetes e a portas fechadas com chave e ferrolho. Derrubaram-se
máscaras, quebrando-se o encanto de uma quase unanimidade, que não
resistiu às primeiras exposições de tudo o que tentava esconder. Fez-se
história. Que servirá de exemplo e alerta aos futuros administradores
públicos, que começam a perceber que a impunidade é um vocábulo que aos
poucos vai sendo apagado dos dicionários. Felizmente.
Exemplos aqui e...
...também lá. Lá no planalto central, na sede do Supremo Tribunal
Federal, que encerrou um triste e recente episódio da vida nacional,
protagonizado por pessoas que se julgavam acima do bem e do mal. E
assistiram, boquiabertos, ao desmoronar de um império. O julgamento e
condenação dos protagonistas do mensalão do PT, na ação penal 470, foi
mais um sólido e agradável exemplo na vida nacional. E um duro recado,
às futuras gerações, de que se não é possível acabar com a corrupção;
dá, sim, para dizimá-la aos poucos. Que venha agora a prisão, para que
esses réus possam refletir sobre o mal que causaram à nação brasileira.
Ainda falta algo
Se a Justiça, na face da deusa Thêmis, tem uma venda nos olhos, uma
balança na mão e uma espada na outra, é hora de dar continuidade ao
julgamento do mensalão, agora tucano, envolvendo políticos do PSDB,
entre eles o senador mineiro Eduardo Azeredo, que já foi governador de
Minas Gerais. Que os mesmos critérios estejam na consciência dos
ministros do STF, para honrar a venda, a balança e a espada. Uma pena
que o pai desses dois mensalões, o da PEC da reeleição de FHC, tenha
passado impune. Como é preciso olhar para frente, mirando-se nos
exemplos passados, que todos assimilem esses recados.
Olhar para frente
Como nem só de retrospectiva vive um fim de ano, é preciso pensar no
que está vindo por aí: o ano novo. E, com ele, a troca de comando
administrativo municipal, com o prefeito eleito, Paulo Hadich (PSB), o
vice, todo o secretariado e vereadores que comporão a nova Câmara.
Todos entrarão em 2013 com muitos recados deixados por 2012. Espera-se
que atentem para essas escritas. Não há mais tolerância a uma agenda
negativa na política local e nacional.
Pergunta rápida
Alguém ainda tem dúvida de que Paulo Hadich (PSB) terá maioria na Câmara Municipal?
Nota curtíssima
As adesões começaram. O exemplo do PMDB está sendo muito bem assimilado, quando o assunto é manutenção de poder político.
A frase do ano
"Não sou vítima de ninguém, a não ser de mim mesmo". Do ex-deputado
federal Roberto Jefferson (PTB), sobre sua condenação pelo STF, no
esquema do mensalão. No dia 28 de setembro, no UOL Notícias-Política.
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