É lógico e racional que procuremos aprofundar nossos conhecimentos com os pensamentos afinados com aquilo que defendemos. E, por razões mais que aparentes, repudiamos tudo o que vai contra essa linha de raciocínio e, raras vezes, ou por puro ranço ideológico, procuramos tirar proveito de opiniões contrárias. Como se nada valessem ou simplesmente não merecessem a devida atenção. Às vezes não merecem mesmo, porém não podemos nos valer desse pressuposto, para impor uma espécie de censura. Mesmo que velada. Não raro, também, é a sensação de asco, quando no meio de um texto encontramos uma opinião que julgamos incorreta ou tendenciosa, como se aquilo fosse o maior crime do mundo. Não o é. É próprio daqueles que têm e expressam suas próprias opiniões. Mesmo que nos desagradem.
Não conheço ninguém, que pelo menos uma vez na vida não tenha feito esse tipo de reflexão, para criticar posturas ou discriminar pontos de vista dissonantes dos seus. É tão óbvia essa identificação entre iguais ou embate entre desiguais, que às vezes essas situações se confundem e, levadas ao campo pessoal, podem provocar estragos e comprometer todo o processo informativo. Não é a discordância de discursos que aciona o mecanismo de uma bomba. Mas sim, a tentativa de calá-los. Qualquer tipo de censura é danoso e pode reviver momentos de uma história, que não queremos ver contada novamente. Ainda há, entre nós, aqueles que defendem a democracia como prerrogativa de mão única e não como a pluralidade dos ideais do ser humano.
Qualquer justificativa, que possa provocar retrocesso nas relações entre o processo democrático e a livre expressão do pensamento ou comprometer o meu, o seu ou o discurso de qualquer outra pessoa, essa sim precisa e deve ser repudiada. Pois não há democracia sem a prática das liberdades fundamentais e das garantias dos direitos individuais. Entre elas, o direito à liberdade de opinião. Contrapor-se a esses preceitos, é renegar a própria luta, baixando-se ao nível dos que não abrem mão do uso indevido da informação. Ou melhor, daquilo que não nos agrada. Mas é pessoal.
Quando estou exercendo o direito de livre me expressar, é preciso garantir também a outrem iguais condições. É o direito ao contraditório, ou como costumo dizer, o contraponto de cada opinião. É uma das mais difíceis missões, a do entendimento do que é, de fato, o jogo democrático. Ou, nas sábias palavras do filósofo e historiador iluminista francês, François-Marie Arouet, que escrevia sob o pseudônimo de Voltaire, "eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Tudo o mais que sair dessa linha filosófica é um precedente perigoso da censura, que, parece, nunca se acaba. Quem não quer confrontar ideias não está preparado para o pleno exercício da cidadania. Não gosto de muita coisa que leio, mas não deixo de lê-las, para reafirmar, sempre, minha própria opinião.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
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