Sob protestos de meia-dúzia de ONGs e da comunidade israelita no Brasil, o presidente Lula recebeu ontem a visita relâmpago do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, execrado pela comunidade internacional por sua política interna repressora e teocrática e postura falastrona, o que não lhe tira, porém, o status de chefe de estado. Ora, se o presidente brasileiro recebera, antes, o israelense Shimon Peres, e o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, essa é mais uma visita oficial - das muitas que se sucederão, com Lula e com quem vier a ocupar seu posto em 2011 - de um chefe de estado a outro. E é prudente lembrar, também, que não há beligerância entre os dois países, que desenvolvem, senão intensa, pelo menos claras relações comerciais como duas nações soberanas.
Protestar contra autoridades internacionais virou mania mundial, principalmente quando garante mídia às próprias ONGs. E não seria diferente por aqui. É preciso lembrar, porém, que tais protestos não passam, para definir bem a situação provocada por Ahmadinejad, de uma grande hipocrisia de quem deseja lavar a roupa suja alheia, mas não olha para debaixo de seu próprio tapete. Nessa hora é preciso uma análise mais pragmática e menos emocional.
Não se trata aqui de defender o presidente da República Islâmica do Irã, que de santo não tem nada e cujas posições antissemitas são bem conhecidas e internamente ganhou uma eleição duvidosa e reprime com violência seus opositores. O mundo se manifesta, a cada dia, ancorado pelos Estados Unidos, contra isso. Ninguém, em perfeito estado de consciência, pode defender um poder de Estado dessa natureza, o que não nos exime, entretanto, de mostrar que há outros e mais graves pecados a serem combatidas sob o ponto de vista ideológico e filosófico, que muitas vezes passam em branco sob os atentos olhares de nossa visão ocidental.
Desde tempos imemoriais que se tenta ocidentalizar o mundo, que não é feito de uma única cultura ou religiosidade. Então pode ser considerada tão ou até mais criminosa a ação da Santa Inquisição; dos jesuítas na catequização dos índios, nos primórdios de nossa história, tentando impingir-lhes uma crença diferente da que professavam, até o não reconhecimento de um povo, enclausurando-o em territórios separados por muros. Ou então condenar povos africanos a viverem na miséria absoluta, porque nada podem dar em troca. É preciso protestar contra isso também e, acima das diferenças culturais e de fé, garantir-lhes a dignidade.
O Holocausto, como a guerra étnica nos Bálcãs, são dois crimes contra a humanidade. Imprescritíveis, diga-se. Como é a prática sistemática de Israel de confinar o povo palestino e negar-lhes o direito a uma nação. Ou a prática suicida dos homens-bomba em nome de Alah. Como devem ser tratadas, também, Guantánamo, as ações militares norte-americanas no Iraque e no Afeganistão e as incursões russas na Chechênia. Exemplos, que avalizam essa hipocrisia, há de sobra!
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário