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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Apagão de inteligência

O apagão de energia elétrica completa hoje uma semana e até agora ninguém tem certeza do que aconteceu. Versões desencontradas, tentativa de politizar a pane que atingiu 18 estados e mais de 60 milhões de pessoas por algumas horas, na terça-feira dia 10, e até “pito” do ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, a um técnico do INPE, que o desmentiu, explicando que o sistema não foi atingido por raios, ainda povoam o imaginário, tanto do governo como da população. Esta, escaldada do racionamento de energia na era FHC, se assusta com uma nova possibilidade de ter que atingir metas mensais de consumo. Nem mesmo uma sabotagem por hackers foi descartada. E ontem o ministério do Lobão afirmou que a causa do blecaute foi um curto-circuito, que derrubou as três linhas de alta tensão e a parada de Itaipu.
Passados os sete dias do evento, que adentrou madrugada de quarta-feira, 11, não se discute mais as causas e consequencias da interrupção de energia elétrica. Discute-se, agora, a vulnerabilidade do sistema perante situações de risco e, principalmente, se o governo investiu o que tinha que investir nos últimos anos. E mesmo com esse novo foco de argumentações, contra e a favor, está faltando sinceridade na hora de expor o problema ao grande público. E esse descompasso de informações tem uma única razão: política. Lugar de político é na política. Já passou da hora de escalar apadrinhados para ministérios estratégicos, como o das Minas e Energia, e colocar técnicos, capacitados em explicar e apresentar as soluções, sem as preocupações dos “panos quentes”, para agradar esse ou aquele mandatário.
O maranhense Edson Lobão, apadrinhado político de José Sarney, trocou os pés pelas mãos, não falou coisa com coisa e muito menos soube explicar o que de fato aconteceu, e como aconteceu. Está até agora procurando o interruptor. Teve preocupação em preservar apenas a política, em detrimento do sofrimento de milhares de brasileiros, que foram deixados às escuras. Literalmente. E ainda, sem o mínimo de pudor, tentou desmerecer uma explanação de um técnico. Lobão sofreu um apagão mental, esse muito mais perigoso que o da energia, por que reflete a incapacidade de administrar falhas e apresentá-las como tais, dando prioridade à política.
Essa é uma triste herança que vem de mais de 500 anos atrás, desde que fomos descobertos e colonizados, até este momento. Ninguém quer buscar culpados, como afirma o presidente Lula. Aqui, o culpado talvez seja o que menos interessa, por que se espera, agora, uma luz no fim desse túnel. E que precauções serão tomadas, daqui para frente, para que não volte a ocorrer um novo apagão. O que se espera é tão somente a verdade sobre o que de fato sucedeu naquela noite. Implique ou não o sistema elétrico. Comprometa ou não a sua vulnerabilidade e, principalmente, envolva ou não políticas públicas mal conduzidas e políticos. A lição vale, também, para a queda das vigas do rodoanel paulistano e da má conduzida e lenta obra da Ponte Preta. Chega de desculpas. Chega de enrolação!

Antonio Claudio Bontorim

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