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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Bom senso, fogo amigo e interferências

O Partido dos Trabalhadores (PT) precisa escolher de que lado vai ficar daqui para frente. Em janeiro o partido encara mais quatro anos de Palácio do Planalto, mas ainda vacila em suas posições, por cargos na administração direta e indireta. É preciso definir se, definitivamente, compõe com a presidente Dilma Rousseff, reeleita pela sigla, e lhe dá todo o apoio necessário; ou se assume a artilharia do chamado fogo amigo, na tentativa de chantagear o governo para continuar ocupando ministérios de maior visibilidade e poder decisório. O fato é que há um descontentamento por parte das tendências petistas mais à esquerda, que não aceitam indicações técnicas (e que devem ser ocupadas por técnicos), em prejuízo das políticas, que rendem dividendos partidários, mas podem comprometer a governabilidade.
E esse fogo amigo tem seu maior arsenal dentro das próprias dependências palacianas, que é comandado por vários dos ministros atuais, que vêm a público para desautorizar os discursos dos recém-escolhidos, como forma de demarcar território, para que tudo possa ficar como está. Foi o caso de Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, que saiu com uma pérola política de fazer inveja, ao afirmar, no dia seguinte da escolha da equipe econômica para o novo mandato, que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não teria total autonomia para decidir suas ações, pois quem manda é a presidente. Isso é evidente, ele não precisa lembrar o óbvio. A escolha de Dilma, por si só, já é uma garantida de autonomia e liberdade de trabalho. Pelo menos deve ser assim. Às vezes é preciso se render às evidências e retomar rumos, do que ficar correndo sobre espinhos, se há outros caminhos que levem o País de volta aos eixos. Se serão caminhos menos espinhosos, isso só o tempo dirá.    
Que há uma interferência desnecessária e antiquada da máquina partidária nos rumos do governo federal, ninguém pode negar. É um direito que está na legislação eleitoral, quando dá ao partido a posse do mandato dos eleitos. Mas até que ponto essa interferência é saudável? Ou se é mais prejudicial e pode levar ao erro? São respostas que o próprio PT, neste caso, precisa responder. E que sejam respostas coerentes com o momento e não com foco meramente político.
Passado o calor das disputas eleitorais, é chegada a hora de retomar o governo e dar-lhe uma nova roupagem a partir de 2015. Se for o caso. O discurso político garantiu a reeleição. É preciso que a prática garanta o novo mandato de Dilma. Mesmo que para isso seja preciso confrontar as lideranças mais resistentes e retrógradas dentro do petismo. Os modelos se esgotam e novos devem ser propostos. E é preciso assumir a necessidade de mudanças para o futuro, que já está bem próximo, sem se esquecer das conquistas do passado até o presente. Se mudar significa melhorar, então está na hora de melhorar.

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