Desconversar é a arte de fazer política sem se comprometer ou comprometer intenções ocultas. Em política partidária, então, isso se torna obrigação àqueles que ascendem a cargos diretivos dentro de suas atribuições. Deixam-se claras muitas intenções, mas não se ensina o “pulo do gato”. Esconde-se em meio às negações e afirmativas parte da verdade. Às vezes a verdade por inteiro. É preciso entender o significado das entrelinhas para alcançar a razão daquilo que se pretende. Em bem articulada negociação, o vereador Nilton Santos (PRB) foi eleito presidente da Câmara de Limeira na sessão do último dia 15, impondo uma derrota à péssima articulação da base governista, que agora junta os cacos e busca argumentos possíveis – se é que existem – para justificar o pífio desempenho. Em meio à arrogância do prefeito Paulo Hadich (PSB), que impôs o seu candidato, Raul Nilsen Filho (PMDB), o pastor Nilton, como é conhecido, ofereceu à oposição o que ela queria, ou seja, banir o PT da Mesa Diretora. Outro despropósito. Mas que faz parte do jogo. E, em meio à insatisfação de parte da base partidária do próprio prefeito, deu-se o inesperado. Mas, nem tanto.
Hora de aparecer
Passado o primeiro impacto de uma surpreendente derrota (na visão dos governistas), coube ao novo presidente do Legislativo municipal, para o biênio 2015/2016 e que encerra a atual legislatura, buscar seu protagonismo. E ele foi atrás e buscou na imprensa a sua vitrine. Falou à mídia impressa e eletrônica e expôs seus projetos e ações, que não esconde suas intenções futuras.
O poder é só meu
À jornalista Érica Samara da Silva, desta Gazeta, proporcionou uma interessante entrevista e mostrou por que desbancou o próprio PT e adjacências. Ele não se perde na palavra – como bom pastor evangélico que é – e expõe suas ideias com assustadora clareza. É preciso buscar nas suas expressões faciais, que mudam a cada pergunta e resposta dada, aonde ele quer de fato chegar.
É bem articulado
Sorrisos, simpatia extremada e sem se furtar às respostas aos questionamentos mais capciosos, o vereador começa a desfilar seus objetivos, mirando seu futuro político e seus interesses. Acompanhei, do meu posto de trabalho e sem perder a intimidade com a entrevista, embora dela não participasse, foi retirando minhas conclusões, para poder chegar com mais propriedade a essa análise.
Afirmação infeliz
O que mais me deixou perplexo, porém, longe das regalias que pretende dar a seus pares – como salário dobrado, por exemplo, entre as outras que desfilou com largo sorriso – foi sua percepção do trabalho do vereador. Ao afirmar que o vereador precisa ter melhor qualidade, mais conhecimento e, por isso, deve ser atraído por bons salários, o futuro presidente da casa está protagonizando um “apartheid” político.
Divisão de castas
Ao propor uma analogia com a iniciativa privada e afirmar que “ninguém com duas faculdades e uma carreira coroada” é mal remunerado, ele mostra um preconceito desnecessário. Não é a universidade e o conhecimento que fazem o homem, mas seu caráter e integridade. De nada vale um diploma universitário, sem honestidade. E é disso que a política nacional mais precisa hoje.
Mimos natalinos
O futuro presidente da Câmara está sendo corajoso em assumir publicamente essa proposta. Ele quer, provavelmente, agradar aos que nele votaram. Mesmo com todos os argumentos que tenha utilizado na entrevista concedida à jornalista, inclusive aquele de que o vereador não tem regalias, como cotas de combustível e carros, por exemplo, também são frágeis diante da realidade da maioria dos trabalhadores brasileiros.
Hora de refletir
E, ao se autoproclamarem trabalhadores do povo e pelo povo, os vereadores devem estar sujeitos às mesmas regras dos demais. Ou será que estou errado e essa diferenciada categoria tem, mesmo, que ter todos esses benefícios? Lembremos que, no passado, o vereador era um voluntário. Eleito, mas sem vencimentos pecuniários. Exercia o cargo pelo gosto pela política. Hoje virou profissão. E que profissão!
Virou profissão
Justamente sobre o tema, o professor e jurista Luiz Flávio Gomes dispõe de um site para esse tipo de discussão. Trata-se do http://fimdopoliticoprofissional.com.br/ que é muito interessante. Nos dá a exata dimensão de tudo o que estamos falando agora.
Eles merecem...
Na mesma linha, e continuando a falar sobre política, na semana que passou, só que na quarta-feira, 17, também os deputados elevaram seus vencimentos, que agora chegam a R$ 33,7 mil mensais, fora as regalias de praxe. Presidente da República, vice e ministros do STF também entraram na lista dos beneficiários. No caso dos parlamentares é um autoaumento, pois a decisão cabe somente a eles. São os únicos “profissionais” que podem elevar seus salários sem ter que pedi-lo a um patrão. Mesmo tendo milhões de patrões, já que são – pelo menos em tese – nossos empregados, pois seus salários saem dos nossos bolsos. Assim como os dos vereadores também. E não houve contestações. Mesmo dos que se autoproclamam éticos e fiscalizadores. O bolso é mesmo um órgão sensível do corpo humano. Tanto no prejuízo, como no lucro.
Mais que limpo
Triste ( mas dentro da lei) a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no caso do deputado Paulo Salim Maluf (PP). Ficha suja reconhecido pela Justiça Paulista e pelas condenações que já teve, o veterano deputado paulista foi liberado pelo TSE e poderá assumir seu mandato em 2015. A fria letra da lei, infelizmente, deve se sobressair à questão moral nesse caso pois, nem tudo o que é legal é moral. É preciso, com urgência, rever essa legislação. E deixar que a avacalhação tome conta de tudo.
A cota excedida
Não quer mesmo investir. Essa é a impressão que dá a cada aparição do governador reeleito, o tucano Geraldo Alckmin, quando o assunto é o abastecimento de água. Agora ele quer multa para quem aumentar o consumo de água em São Paulo. Já deu desconto para quem economiza, agora quer multar. Investimentos no sistema e reconhecimento da gravidade do problema passam longe de Alckmin, que insiste em não rever seus conceitos. E eu que pensei que, passadas as eleições, medidas duras seriam anunciadas após a sua vitória, errei. E feio. Ele continua com a lenga-lenga de sempre. Com o famoso nhe-nhe-nhem do seu parceiro de partido, o ex-presidente FHC. Isso me lembra a história do apagão de energia, quando fomos obrigados a trocar nossas lâmpadas, para não exceder a cota de consumo proposta. No circo São Paulo, continuamos como palhaços.
Pergunta rápida
Quem vai “segurar” a onda para o prefeito a partir de agora na Câmara?
Foi pior a emenda
Saiu o relatório da Comissão de Ética da Câmara Municipal sobre a punição do vereador André Henrique da Silva, o Tigrão (PMDB). Foi divulgado na última sexta-feira pela vereadora-relatora do processo, Érika Tank (Pros), e recomenda dez dias de suspensão ao “nobre edil” (é antigo isso...), que será votado na primeira sessão ordinária da Câmara em 2015. Depois de tanto barulho chega a ser hilária tal decisão. Melhor seria, como já opinei neste espaço, a absolvição completa de Tigrão, pela irrelevância de seus atos. Neste caso sai mais arranhada em sua integridade a Comissão de Ética do que o próprio vereador punido. Para utilizar uma expressão de rede social, kkkkkkkkkkkkkk.
Nota curtíssima
Um feliz Natal a todos.
Frase da semana
“É preciso tornar o Legislativo atraente para pessoas com conhecimento”. Do vereador Nilton Santos (PRB), eleito presidente da Câmara, sobre o aumento salarial dos vereadores. Terça-feira, 16. Na Gazeta de Limeira.
domingo, 21 de dezembro de 2014
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