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terça-feira, 18 de março de 2014

Um povo sem memória. Um povo sem história

Enquanto a especulação imobiliária e o apego material consomem as origens de um povo,
transformando-as apenas em registros escritos para constar em apêndices históricos descritivos, vão privando as gerações futuras de conhecerem e interagirem com seu próprio passado. E isso não é desabafo de saudosista e nem tão pouco expressão que possa contrariar as expectativas do progresso, da evolução social, econômica e tecnológica, que hoje correm a uma velocidade inimaginável de um polo ao outro do Planeta. Trata-se de uma constatação de atos e fatos, que levam à degeneração do patrimônio, histórico e arquitetônico principalmente, que está intimamente inserido no dia a dia de cada um de nós, e que se perdem aos poucos, por falta de conscientização e pouca ação de autoridades nesse sentido.
Esta Gazeta trouxe, na edição do último domingo, uma confirmação do que relatei acima, em matéria da jornalista Daíza Lacerda (Tombamento de Imóveis Permanece Pendente), sobre a falta de tombamento definitivo de cerca de 36 imóveis históricos, que já têm proteção legal para isso, contemplada pelo Plano Diretor, revisado entre 2007 e 2008. Todos os processos estão empacados. Na falta de interesse dos próprios proprietários e na burocracia do poder público municipal, que repete uma conhecida ladainha, sempre que questionado.
Preservar um imóvel de interesse histórico, em área nobre, por exemplo, contraria muitos interesses. Em especial o da especulação imobiliária, como eu apontei no início desta análise, que não tem limite para sua ambição e o dos proprietários, pela sua sobrevalorização. São entraves que só podem ser resolvidos com vontade política e, principalmente, com a preocupação preservacionista, que não significa, como muitos pensam e afirmam, obstáculo ao desenvolvimento. Cultuar a história e tudo o que dela advém pode, sim, alavancar o crescimento de outras regiões, como alvos de investimentos, sem que se tenha que demolir um casarão para edificação de uma nova construção. O que promove, inclusive, a descentralização urbanística e o desafogo de áreas, pela concentração populacional ou comercial.
A Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, é um exemplo dessa descaracterização histórica. Símbolo do progresso da capital do Estado, não sobrou sequer um desses casarões ao longo de seu trajeto. E o simples fato de  falar em tombamento, à noite e na surdina, as máquinas demoliam um a um desses imóveis. Será que não poderiam conviver harmoniosamente no local? O interesse financeiro diz que não; a memória se transforma em amnésia.
Para concluir, história e progresso podem conviver, sim, de forma harmônica. E temos dois exemplos positivos de ações que mostram que o poder público pode, sim, interferir nesse processo. No final dos anos 1980 e início dos 1990, o então prefeito Paulo D’Andréa desapropriou o Palacete Levy e em 2004, Pejon “comprou” o prédio das indústrias Prada. Dois ícones da história limeirense. Caso isso não tivesse acontecido, ambos estariam no chão. Muita gente com dinheiro no bolso e as gerações futuras privadas de conhecer esses dois belos monumentos.  

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