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terça-feira, 4 de março de 2014

Se falta fiscalização, sobra comemoração

Interessante. Curioso. Elucidativo e talvez o mais fiel retrato das preocupações que envolvem o trabalho dos vereadores limeirenses na busca por notoriedade, ao tentarem agradar a determinado setor profissional ou segmento social. Tudo para manter na mídia seus representantes. Mesmo que por uma exposição desnecessária de imagem. Por vaidade mesmo.
Defino assim o excelente texto da jornalista Érica Samara da Silva, em reportagem publicada por esta Gazeta, em manchete, no último domingo (‘Falta’ calendário para datas criadas pelos vereadores), que mostra o exagero - em meio a muitos acertos - de homenagens desnecessárias, proporcionadas pela Câmara Municipal. Celebrações que, apesar de serem transformadas em leis, muitas delas jamais saem do papel à prática, mesmo porque não há datas nesse calendário (já tomadas por tantas comemorações), que fica reduzido a poucos dias. Inclusive quantificadas pela jornalista, com números e porcentagens, que beiram ao delírio. Mas são reais e matematicamente delimitadas. Oficiais. São dados públicos e não há como escondê-los. E não há contestação possível, perante tantas evidências.  
Os números representam uma explosão desses projetos a partir dos anos 2000, 143 leis nos últimos 14 anos contra apenas 14, desde 1956 quando foi criada a primeira até 1999. E dão mostras do que um Legislativo submisso ao Executivo pode fazer. Ou deixa de fazer. Principalmente a partir de 2005, quando o prefeito Silvio Félix (PDT) teve as rédeas da Casa nas mãos, e agora com Paulo Hadich (PSB), muito mais forte ainda nesse domínio e com folga na maioria entre os situacionistas, pouco se vê de fiscalização aos atos do Poder Executivo, função primeira dos vereadores. Assim como as legislaturas anteriores foram cobradas por essa submissão (garantindo carta branca ao prefeito), a atual, agora com 21 eleitos, também deixa a desejar e esquece-se que a população a qual representam tem interesses distintos e outras prioridades – como saúde, educação, segurança, habitação, para citar algumas – que acabam sendo substituídas por dias e semanas comemorativas, que pouco representam para a vocação do Município.
Ninguém é contra que se preste homenagens e nem mesmo que se instituam semanas de conscientização sobre temas de momento e também de interesse social. O que se questiona é a perda de tempo que isso acarreta. E, muitas vezes, podem até ser utilizadas para acobertar às reais deficiências da administração pública. À ineficácia da máquina política, tão danosa aos anseios de toda a comunidade. Pois quando um legislador se preocupa em criar o dia internacional do homem, do skatista, do alpinista, da pesca, da família afro-brasileira (já não existe o Dia da Consciência Negra?) entre tantos outros inusitados, por que não dizer pitorescos, a melhoria no transporte público anda devagar, faltam remédios na rede pública, as vagas em creches não atendem à demanda e aí por diante. Só para citar as maiores críticas da população, transformadas cotidianamente e matérias jornalísticas e divulgadas pelos meios de comunicação. Consciência e respeito não se instituem por lei.

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