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terça-feira, 25 de março de 2014

Fiasco. A resposta da democracia

Em que pese o fisiologismo político desenfreado que corre por este País, em um toma lá dá cá, que vem de longe e assombra governo após governo, desde o retorno das eleições diretas presidenciais. Dos fichas-sujas, que mancham a política nacional e do alto índice de corrupção que não escolhe cor ideológica e nem sigla partidária, não há mais espaço para aventureiros nesta jovem democracia brasileira. E sempre que alguém levantar alguma bandeira contra a liberdade e as garantias individuais, invocando, mesmo que de forma saudosista, o retorno à ditadura ou a tomada do poder à força e longe dos preceitos republicanos e constitucionais, estará fadado a um humilhante fracasso. Desses de enfiar o rabinho no meio das pernas, como se diz na gíria popular e ficar bem quietinho num canto escuro qualquer, esperando essa vontade passar.
Marcada para o último dia 22, como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade II (quem não se lembra da primeira, há exatos 50 anos, que jogou o Brasil na mais sanguinária ditadura de sua história), com direito a convocação pelas redes sociais, acabou marcada por um estrondoso fiasco, ao reunir 7 manifestantes no Obelisco do Ibirapuera, para levar carta aos militares, na sede do Comando da 2ª Região Militar, pedindo justamente o retorno aos chamados anos de chumbo. E, note-se, que o mesmo direito que a democracia garantiu a esses admiradores e saudosistas da ditadura, foi tirado daqueles que se manifestavam contra ao início do regime militar, lá em março de 1964. E, como consequência, levou boa parte de seus líderes e seguidores à tortura e morte nos porões dos órgãos da repressão que se iniciava à época. E é, por isso, que sempre afirmo e reafirmo, quando escrevo sobre esse tema, que a melhor forma de conhecer os inimigos da democracia é deixar que eles se manifestem. O adversário visível, palpável, é mais fácil de derrotar principalmente no campo das ideias.      
E foram derrotados, vergonhosamente derrotados sem a necessidade de perseguições, prisões, tortura e mortes. Foram derrotados pelos próprios argumentos, de fazer corar até mesmo Hitler ou Mussolini, ao tentar reescrever uma história, que ninguém vai apagar e muito menos deseja esquecer. E pelo descaramento em propor um novo golpe de estado, para moralizar a Nação. A restauração da verdade, que hoje expõe comandantes e comandados das atrocidades cometidas, sobre os 21 anos de domínio da farda e do coturno, em muito contribui, também, para que essas ideologias não encantem mais ninguém.  
Grandes vítimas da restrição da liberdade de expressão durante o regime militar – embora muitos deles tenham apoiado o golpe, em princípio – os meios de comunicação praticamente ignoraram o protesto e pouco – quase nenhum - espaço deram para os seus idealizadores. Mais uma prova de que a democracia faz muito bem ao País e não permitirá novas aventuras que possam comprometer todas as conquistas dos brasileiros, após a saída dos generais do poder. E a melhor resposta para isso foi esse fiasco, que reuniu não quatro, mas sete cavaleiros de um novo apocalipse. Somam-se aos primeiros – peste, guerra, fome e morte – mais três: ignorância, intolerância e arrogância.   

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