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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Um bom começo. Não a solução

Do feriadão prolongado ao início da semana útil o País viu, em rede nacional e com direito a muitos repetecos, os primeiros onze mandados de prisão referente à ação penal 470, o mensalão, serem cumpridos pela Polícia Federal e os condenados levados de seus estados, após apresentação voluntária – ou agendada – de cada um deles. O décimo segundo não foi possível, pois o réu conseguiu fugir (???) mesmo com o passaporte recolhido. Não houve necessidade de invasões, portas sendo arrancadas e a TV mostrando algemados sendo conduzidos. A resistência, embora pequena, foi barulhenta apenas por parte de militantes políticos, que gritavam palavras de ordem e slogans devidamente elaborados – posicionados atrás de repórteres de TVs – à passagem de cada um dos políticos presos.
Tive, e continuo tendo, a impressão de que petistas, como o ex-ministro e deputado federal José Dirceu e o também deputado federal, José Genoíno, licenciado da Câmara por motivos de saúde, estavam aguardando esse momento para capitalizar – e vão conseguir - de forma positiva a prisão. São experientes, resistiram à mão armada contra a ditadura e, com certeza, não deixarão essa segunda reclusão passar em branco. Já argumentam, pelas redes sociais e que são amplamente compartilhadas pelos seus partidários, que são presos políticos. E, de culpados e condenados, passarão a adotar postura de mártir, com profundo apelo emocional, quando propagado da forma certa e na hora certa.
Procurei ler, ouvir e analisar tudo o que foi publicado sobre essas primeiras prisões – e outras devem estar em andamento neste momento – e a percepção de analistas e políticos ainda é muito vaga. Pelo menos o que foi passado e repassado pelas diversas mídias ainda trazem um tom ufanista de que o combate à corrupção saiu vitorioso e a imagem de ex-homens fortes do atual governo sendo levados à prisão, servirá de exemplo e inibirá novos atos lesivos ao patrimônio público. Se assim fosse, países em que a Justiça sempre foi dura contra os criminosos do colarinho branco, já teriam ficado livres de corruptos e corruptores. O que pode ter regredido nesse processo todo – e isso é uma grande vitória – é a sensação de impunidade, que acompanha o Brasil de longa data, criando uma velha e surrada máxima, de que cadeia é apenas para pobre ou ladrão de galinhas.
Os que comemoram efusivamente contra o PT e seus mensaleiros, hoje, são os mesmos envolvidos até à sombra em privatarias, propinodutos e desvios que saíram dos trilhos há muito tempo. Ou, então, em esquemas parecidos ao do próprio mensalão, que vem desde a aprovação da emenda que garantiu a reeleição a FHC e nunca foi apurada ou os culpados punidos. Se agora empresários e figurões da mais alta estirpe da política nacional estão recolhidos à carceragem, há muito por fazer e outros tantos ainda estão longe de ser julgados, apesar dos crimes cometidos contra a administração e o erário públicos. Por isso, afirmei que esse ufanismo é perigoso, pois ele tira o chão real sob os pés da Nação, quando cria a falsa sensação de que todos os problemas foram resolvidos com essas poucas prisões. Não foram mesmo. Há muito tubarão graúdo nadando em águas de lambaris.   

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