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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Quando o Estado é enfrentado e não responde

Desde 2006, com os primeiros ataques dentro de praticamente todo o Estado de São Paulo, naquele fatídico maio de muitas perdas de vidas e o surgimento - ou batismo, sei lá - de uma facção criminosa, que expunha suas iniciais em rebeliões dentro dos presídios, mostradas do alto pelos helicópteros das emissoras de TV, o governo estadual não se acertou mais, quando o assunto é segurança pública. Até um acordo de cessar-fogo foi protagonizado pelas duas partes, negado, posteriormente pela Secretaria da Segurança Pública de SP, que ficou bastante evidente com o fim das incursões dos criminosos e do revide da PM.
O Primeiro Comando da Capital, o PCC das letras desenhadas, talvez até um contraponto ou mesmo filial do já conhecido Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro, escancarou então uma política de segurança despretensiosa e ineficiente na resposta aos ataques, que se iniciaram no Dia das Mães daquele ano e, mesmo com muitas lideranças trancafiadas em presídios de segurança máxima naquele período, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e sua cúpula só vem patinando na proteção dos seus servidores, os policiais militares mortos às pencas, e da população civil como um todo, que está se sentido cada vez mais acuada e prisioneira do crime organizado, que o próprio governador chegou a definir como "lenda urbana".
O curioso é que alguns dias após o próprio governo se vangloriar da redução dos homicídios, com estatísticas animadoras até, uma nova crise eclodiu e emparedou todo o staff da segurança paulista, cuja arrogância de seu comandante, o secretário Antonio Ferreira Pinto, fechava os olhos à ajuda do governo federal e ainda alardeava controle da situação. Estava, de fato, tão controlada - pelos bandidos -, que as mortes são aumentavam, mas o secretário não abria mão de sua cegueira política, quando não reconhecia a gravidade do momento, que começou a deixar a capital e caminhava rumo ao interior do Estado. Sua relutância em agir e procurar soluções acabou por lhe custar o cargo, num forçado pedido de demissão. E a troca de Antonio Ferreira Pinto por Fernando Grella, um procurador do Estado, oriundo do Ministério Público, parece não ter surtido o efeito desejado. Neste último final de semana mais mortes e o mesmo modus operandi de sempre.
E na troca de peças nesse verdadeiro tabuleiro de xadrez, peão por peão, cavalo por cavalo ou bispo por bispo, o xeque-mate pode até estar próximo. Mas o jogador precisa se apresentar ao jogo e, principalmente, contra quem vai jogar. Uma guerra dificilmente acaba, enquanto um dos lados não reconhecer o outro, que só tende a se fortalecer. Não é tão simples quanto possa parecer. Mas a principal estratégia de combate ainda não aconteceu: justamente o reconhecimento da existência do inimigo. Enquanto o governo estadual não acreditar que está numa batalha sem precedentes contra criminosos bem organizados, não se avança às fronteiras inimigas. Ou seja, o Estado tem que responder ao enfrentamento, também com organização. É o que não está acontecendo. E a matança continua.  

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