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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sem explicar, sem entender, sem esperar

As tragédias são cíclicas. Impossíveis de ser previstas e, consequentemente, nunca podem ser evitadas. Às vezes são amenizadas com ações aleatórias e pontuais. Ninguém ou nada, entretanto, pode impedir que elas aconteçam. O massacre na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na quinta-feira pela manhã, provocado pelo ex-aluno da mesma escola, Wellington Menezes de Oliveira, 23, é uma dessas insanidades pela qual ninguém espera. Que ninguém entende e muito menos consegue explicar. Quem poderia fazê-lo, não pode mais testemunhar e ficaremos, então, com as teóricas e infindas explicações através de perfis traçados por psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas. Resta-nos, então, a comoção pela dor dos pais, parentes e amigos dos adolescentes e crianças mortos, atônitos e despreparados para enfrentar o desconforto da perda repentina e brusca. Da interrupção da flor em botão, que não vai mais desabrochar, pois foi arrancada violentamente da vida. As palavras saem aos soluços. A escrita é embaralhada pela lágrima, que teima em ensopar os olhos.

Cenas obscenas
Finlândia, Alemanha, Bélgica, EUA, Reino Unido, China são países que já viveram e vivem esse tipo de drama. Agora o Brasil. Para quem estava acostumado a ver tragédias dessa natureza através das transmissões de noticiários de TV, assistir ao massacre da porta de casa foi doloroso. Inacreditável, como se isso não pudesse estar acontecendo. Mas estava e aconteceu. E também virou notícia de TV lá fora. Foi a nossa vez!

Violência urbana
Ainda no domingo passado, mais um caso de violência de aluno contra professor foi noticiado por esta Gazeta. Comentei e escrevi sobre o fato ocorrido e suas consequências, no artigo da terça-feira, dia 5. Professores relatam cotidianamente agressões sofridas em sala de aula. E futuras tragédias podem estar sendo anunciadas, sem que se faça algo para deter essa violência gratuita. Como tirar o pavio dessa bomba?

2011, no Brasil!!
Veja a seguir, através de uma cronologia invertida, do ano passado até 1996, os casos de violência em escolas que ocorreram no mundo. Os Estados Unidos foram os campeões em ocorrências: 2010, cinco nos EUA; 2009, uma na Alemanha e uma na Bélgica; 2008, uma na Finlândia e duas nos EUA; 2007, uma na Finlância e uma nos EUA; 2006, seis nos EUA e uma no Canadá; 2005, duas nos EUA; 2004, uma na Chechênia; 2003, uma nos EUA; 2002, duas na Alemanha e uma nos EUA; 2001, uma no Japão e outra nos EUA; 1999, uma nos EUA; 1998, duas nos EUA; 1997, uma no Iêmen; 1996, uma no Reino Unido.

Só incompetência
É só começar a temporada do futebol profissional em Limeira, que a incompetência do poder público municipal aflora de forma inequívoca. Com dois estádios, o município não tem nenhum, pois a Prefeitura simplesmente não faz a manutenção adequada e necessária para que PM, Bombeiros, Federação Paulista de Futebol, MP, liberem as praças esportivas sem quaisquer empecilhos. Todo ano é a mesma coisa. O prefeito Silvio Félix tem uma grande dívida para com o esporte limeirense.

Se você quer ler
Franz Paulo Trannin de Matta Heilborn. Este é o nome do autor, cuja obra recomendo hoje para uma boa leitura. E o livro indicado é Cabeça de Papel, que foi sua estreia como romancista, no ano de 1977. Até então seus escritos se resumiam a coletâneas de artigos publicados na imprensa. O dono desse nome pomposo nada mais é que o jornalista Paulo Francis. Cabeça de Papel na realidade é uma ficção, onde Francis expõe uma bem ambientada trama na Zona Sul carioca. Hugo Mann, um dos personagens, é um crítico de cinema e ex-trotskista e o personagem principal é Paulo Hesse, editor de um grande jornal conservador carioca que, antes de 1964, era um colunista de extrema esquerda. O resto é só mesmo lendo o livro.

Eu Recomendo!
Para que não nos esqueçamos, que todos estão sujeitos a tragédias dessa natureza, quando o fanatismo vem à tona. Minha sugestão de filme, hoje, na verdade é um documentário e mostra toda a vulnerabilidade do ser humano. Assistam a Tiros em Columbine (Bowling for Columbine, EUA-2002), com a direção e participação de Michael Moore, além de Denis
e Ames, Charlton Heston, Marilyn Manson, Matt Stone, Barry Galsser e John Nichols, todos se autointerpretando. Moore, diretor e narrador do filme, investiga a fascinação dos americanos pelas armas de fogo e questiona a origem dessa cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. Entre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbine. Lá os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório. Michael Moore também faz uma visita ao ator Charlton Heston, presidente da Associação Americana do Rifle.

Uma explicação
Essa indicação de filme, que faço, não tem nada a ver de sensacionalismo, não! Vem a calhar com os acontecimentos da última quinta-feira, no Rio de Janeiro, cuja tragédia se assemelha a Columbine (e até ganhou esse triste apelido), guardadas as devidas proporções e a idade do atirador suicida e suas motivações. E nos remete, novamente, ao referendo do desarmamento. O quanto a decisão dos brasileiros nas urnas foi e é responsável por essa e outras tragédias, envolvendo armas de fogo. Eu, pelo menos - e que me desculpem aqueles que pensam o contrário, pela própria garantia constitucional de discordar - não apertei o gatilho no referendo. Tentei desarmar, mas fui voto vencido e tenho que conviver com isso, pois também me sinto culpado por não ter me mobilizado mais pela opção que fiz.

Frase da semana
“O sentimento é de tristeza pelas crianças. Eu tenho filho nessa idade. Mas também é sentimento de dever cumprido, impedi que ele chegasse ao terceiro andar e fizesse mais vítimas. Se tivesse chegado cinco minutos antes, poderia ter impedido mais alguma coisa”. Do terceiro sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Márcio Alexandre Alves, 38, o primeiro a chegar e impedir que o atirador da escola de Realengo, RJ, provocasse uma tragédia maior. Na quinta-feira, em entrevista a jornalistas de diversas mídias.

Antonio Claudio Bontorim

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