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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Muito além do jardim

Uma alternativa, não solução definitiva. Este deve ser o foco de ações judiciais para internação compulsória de dependentes químicos - mesmo sem a autorização explícita do adicto - como forma de se levar um pouco de conforto e recurso, talvez final, àquelas famílias que não sabem mais o que fazer nesses casos. Principalmente porque se trata da constatação do vício como epidemia mundial, cujos contornos são muito mais escuros do que imaginamos. De consequências imprevisíveis em casos extremos, que levam a verdadeiras tragédias. Como a ocorrida na semana passada, quando um filho matou seu próprio pai a facadas.
A manchete da edição de domingo da Gazeta trouxe informações interessantes e que boa parte dessas famílias que convive com o problema das drogas desconhece, como mostrou a jornalista Érica Samarana da Silva, na matéria “Limeira tem o 1º pedido de internação compulsória de dependente químico”. Se o tráfico, início desse doloroso processo, precisa ser combatido em todo o planeta através de ações planejadas e conjuntas pelas autoridades policiais, a dependência deve ser tratada como questão de saúde pública e, assim, ter no próprio sistema público de saúde válvulas que permitam àqueles que convivem com tal questão social, possibilidades efetivas e acesso rápido ao tratamento.
E a desinformação é um entrave à quebra desse círculo vicioso (desculpem-me pelo trocadilho, mas é necessário). Reportando-nos às ocorrências locais, a possibilidade legal de levar o usuário de drogas ao tratamento mesmo contra sua vontade, dá-nos a ideia do tamanho dessa desinformação. Se Limeia teve o “primeiro pedido de internação compulsória” via Justiça no mês passado, a lei (10.216) é de 2001. Ou seja, está completando dez anos de existência. E então nos deparamos com a dura realidade exposta de forma clara pelo juiz Mário Sérgio Menezes, da 3ª Vara Cível e diretor do Fórum: “A lei pode garantir a internação em caso de recusa do dependente, mas as pessoas não buscam esse recurso, por desconhecimento. Não há divulgação como existe nos casos de dengue”.
E a quem interessa essa desinformação? Aos agentes políticos, que sem estrutura - ou vontade política - para esse tipo de atendimento e tratamento, em vez de garantir os instrumentos à essa obrigação, lavam as mãos, como se a conversa não fosse com eles. E a Justiça, como sempre, acaba sendo o porto seguro para quem não sabe mais a quem recorrer. É uma alternativa. A solução definitiva, entretanto, está justamente com aqueles que não querem enfrentar suas próprias responsabilidades. Preferem apenas enfeitar o jardim, a tratar do mato que cobre as flores ou a combater as ervas daninhas, que destroem as plantas em crescimento.

Antonio Claudio Bontorim

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