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terça-feira, 12 de abril de 2011

Fomento ao ódio

“Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. Esse é o artigo segundo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que a França parece ter esquecido e jogado no lixo, com a proibição de uma tradição cultural e religiosa entre os islâmicos, o uso da burca ou niqab (trajes femininos, que escondem o corpo e o rosto das mulheres), que vigora como lei desde ontem naquele país europeu e deve acirrar, ainda mais, as animosidades entre muçulmanos e cristãos. Entre os países que professam o islamismo e nós, ocidentais, que sempre fazemos juízo de valores a culturas, não entendemos ou nem tentamos, no mínimo, aceitar e respeitar.
É histórica - e às vezes histérica - a reação ocidental às culturas orientais e as incursões, principalmente religiosas, de dominação sobre os que professam qualquer tipo de fé - ou nenhuma - que não seja a cristã, como fosse esta uma verdade universal. Não é! Nunca foi e nunca será! Uma faceta odiosa, que insistimos em manter acesa como o fogo que membros da Ku Klux Klan americana ateiam às cruzes em suas caminhadas mascadaras e covardes na defesa da supremacia branca.
Como foram odiosas e insidiosas as Cruzadas Medievais à Palestina e a catequese dos Jesuítas sobre povos indígenas - ou considerados primitivos - só porque não acreditavam ou aceitavam o mesmo Deus dos cristãos. Para citar apenas dois exemplos, porém, fortes e marcantes.
Com a aprovação dessa nova lei francesa, precedentes serão abertos e, ao que tudo indica, solidifica-se nova cruzada do Ocidente contra o Oriente, em curso desde o 11 de setembro dos EUA. Cria-se assim um silogismo (já comum entre aqueles que defendem a primazia e o domínio de alguns povos sobre outros): “Bin Laden é terrorista, Bin Laden é muçulmano, logo todo muçulmano é terrorista”, estigmatizando-se, assim, a nomenclatura “terrorismo” para definir, muitas vezes, a luta ideológica e de autodefesa entre as diferentes culturas. Não são menos terroristas os judeus que promovem ocupações em territórios árabes, do que os próprios combatentes da jihad islâmica. É desprezível que se tentem acentuar tantas diferenças na era da informação, que vem transformando o planeta na aldeia global proposta por Marshall McLuhan, cujas fronteiras podem ser abertas em apenas um clique. Diferenças culturais, religiosas e políticas não devem mais interferir nesse globalismo.

Antonio Claudio Bontorim

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