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terça-feira, 13 de julho de 2010

Tanto aqui, como lá!

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, é um pândego. Além de seu apego por belas mulheres e orgias declaradas e até públicas, o premiê italiano direitista é dono de um humor considerado por adversários e admiradores como de extremo mau gosto. Frases chulas, preconceituosas e até mesmo que instigam o ódio étnico são tratadas por ele como corriqueiras e invariavelmente ditas em discursos e encontros políticos. Em visita recente ao Brasil, ele foi pego com a boca na botija em uma festa privê, com dançarinas brasileiras em sua suíte de hotel. Evidente que ele nega, mas não pode esconder. Algumas personagens do rega-bofe patrocinado pelo todo-poderoso líder italiano já se esbaldaram em entrevistas na mídia brasileira e reproduzidas nos meios de comunicação italianos.
Tudo isso é mera ilustração ante a mais recente pérola, que ‘escapuliu’ da boca de Berlusconi, na semana passada, em meio às suas tentativas de fazer emplacar por lá também uma “lei da mordaça”, que limita o uso e difusão de escutas telefônicas de investigações oficiais e impõe penas de prisão e pecuniárias a jornalistas que a desobedecerem. Ele diz que a liberdade de imprensa não é um direito absoluto e que tais direitos “não existem numa democracia”. O que pretende com isso, o chefe de governo italiano? Na verdade é uma espécie de “controle social da mídia” por lá - como estão tentando propor aqui - para, nas palavras do próprio mandatário, “dar fim à mordaça imposta à verdade” praticada pela imprensa que não o bajula e nem está afinada aos seus “princípios”. Imprensa que ele trata como “alinhada com a esquerda e hostil ao Governo”. Incrível como já ouvi esse tipo de afirmação por aqui também, com justificativas idênticas. Até nas palavras.
E num protesto inusitado, talvez tentando mostrar como essa “lei da mordaça” pode privar o debate de ideias e comprometer os direitos dos cidadãos ao livre expressar do pensamento, a maioria dos jornais italianos deixou de circular na sexta-feira, 9 de julho. E as emissoras de rádio e TV não transmitiram noticiários. Esse recrudescimento de governos (e nesse caso sem distinção da esquerda, direita ou centro), requerendo para si o papel de editores daquilo que apenas lhes interessam e de censores aos críticos, insisto, é um perigoso precedente que querem impor à própria democracia. Um limite à nossa própria inteligência.
Nenhum direito é absoluto em si mesmo, a não ser o direito à vida. Há, porém, direitos fundamentais que precisam ser respeitados. Aprimorados, até. Entre eles, o da liberdade de imprensa. Quer queiram ou não os déspotas do Século XXI. Que são muito mais esclarecidos do que supõe nossa vã filosofia.

Antonio Claudio Bontorim

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