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terça-feira, 27 de julho de 2010

Entre a vergonha e a honra

Como negócio, o esporte deixou de ser uma saudável rivalidade entre atletas, equipes, modalidades, categorias, nações inteiras e tudo o mais que o caracterize como performance competitiva. E, principalmente, perdeu sua característica primordial de elevação do espírito nacional e patriótico. O negócio, que mexe com cifras (dinheiro, no popular), desconsidera esses compromissos de amor e paixão. Move-o apenas o interesse do lucro - conforme sua própria definição - deixando o lúdico de lado. Aquilo que representa sua verdadeira essência.
O espírito do barão Pierre de Coubertin, o idealizador das Olimpíada da Era Moderna, que nos legou a máxima de que o “importante é competir”, deu lugar à excrescência do “vencer a qualquer custo”. Mesmo que para isso a ética da competição dê lugar a desonra do resultado fabricado. Que pode ser constatado também em recentes casos de doping pelo mundo, na tentativa de se fabricarem superatletas. Até mesmo com o apoio da indústria farmacêutica.
O que temos, então, é uma verdadeira pausteurização da atividade esportiva patrocinada por todo tipo de interesse - do comercial ao confederativo -, que em nada lembra o “fair play”, o “jogo limpo” na tradução do termo, cunhado lá no final do Século XIX e início do XX, pelo próprio Coubertin. Apesar de tudo isso - e não é romantismo piegas e nem utopia - ainda é possível se pensar no esporte pelo esporte. Ver no brilho dos olhos de atletas e torcedores, que ainda vale o jogo bem jogado. A disputa dentro de cada modalidade e nos seus diversos ambientes, apenas pelos resultados.
No domingo dois momentos distintos, em tempos também distintos, que oscilaram entre a vergonha e a honradez. Pela manhã, um mau exemplo. O piloto brasileiro Felipe Massa se rendeu às ordens do box da Ferrari para deixar o espanhol Fernando Alonso vencer, numa triste violação às regras esportivas. Rendeu-se a um suposto espírito de equipe, talvez para não perder assento no carro do cavalinho rampante. E à noite o exemplo que lavou a alma do brasileiro, manchada de vermelho. Uma equipe ainda em formação, com titulares contundidos e ausentes, mas querendo vencer. Nem a favorita Rússia foi capaz de deter o ímpeto da seleção brasileira masculina de vôlei, que conquistou assim seu nono título na Liga Mundial. A cabeça baixa e o semblante de Massa revelaram a pequenez do esporte-negócio.

Antonio Claudio Bontorim

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