Não há nada mais triste do que perder por não ter lutado. E depois se esconder, fugir da responsabilidade como se nada tivesse acontecido. Quando uma batalha se finda e os soldados, extenuados, buscam por companheiros sobreviventes, abraçando-os e reconfortando-os numa mistura de suor e lágrimas (não havia sangue aparente), alcança-se a vitória na derrota. Não importa o front da batalha. O campo da luta. Importa, sim, os que conseguiram sobreviver e, juntando-se aos companheiros na tristeza vislumbram novos e futuros embates. Perdeu-se apenas uma batalha. Outras guerras advirão para então se tentar uma vitória possível.
Sexta-feira, 2 de julho. O Brasil tombou, derrotado pela brava Holanda por 2 a 1, no campo que leva o nome de um dos maiores defensores da liberdade e da luta pela igualdade étnica, o Nelson Mandela Bay Stadium, em Porto Elizabeth, e o que se viu foi cada um indo para um lado diferente, numa recomposição solitária em semblantes chorosos, tentando achar explicações para o inexplicável. À exceção de dois ou três - como Lúcio, o lutador; alguns novatos e um que não podia guerrear, pois havia tombado numa outra batalha, Elano, o surpreendente. Enquanto isso o comandante fugia túnel adentro, sem pronunciar uma palavra de conforto sequer. Avesso ao sofrimento de seus comandados e imponente na sua glória efêmera de um derrotado, que precisava manter sua prepotente postura, acentuando sua pobreza de espírito. Até mesmo no aperto de mão ao presidente, com uma das mãos no bolso. Nada mais grotesco. E triste!
Sábado, 3 de julho. Na Cidade do Cabo, um dos mais importantes portos da África do Sul, no Green Point Stadium, o mesmo panorama. Derrotados e vencedores. A Argentina, de forma mais humilhante ainda, caía literalmente de quatro perante a forte Alemanha. Enquanto vencedores comemoravam, os perdedores se abraçavam, alguns choravam e, coletivamente se confortavam no braço de um verdadeiro almirante de esquadra, que um a um, os abraçava e os beijava. E no desconsolo da irrefutável goleada, como se diz no jargão futebolístico, tinha tempo para todos. Como convém aos grandes vencedores. Mesmo que na derrota.
Apenas um dia separou essas duas cenas de uma triste realidade para nós, sul-americanos. Como apenas um dia separou, também, a chegada dos soldados à Pátria Mãe. Por aqui, a maioria procurou se esconder como pôde, fugindo por portas dos fundos ou laterais. A exemplo do nosso comandante-chefe. A Nação estava entristecida e enfurecida pela falta de luta e do ‘espírito guerreiro’, como bem notabilizou a propaganda da cerveja patrocinadora das contendas. Na Argentina, o povo de braços abertos recebia seus heróis tristes e abatidos, porém confortados e sabedores de que tentaram. E lutaram até o fim. Apenas um dia separou a desonra, marca da falta de coragem, da frustração, que é passageira e logo assimilada. Quem lutou até o fim conhece bem a diferença entre uma e outra!
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 6 de julho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário