O tema sobre o qual estou me debruçando hoje neste espaço a mim reservado todas as terças-feiras não é novo. Transformou-se na mais escandalosa rotina, preenchendo o cotidiano brasileiro com três “des”, que são a cara deste País e de seus políticos: descaramento, desconfiança e descrença. Perdeu-se a vergonha por inteiro, a ponto de não se notar mais nem os disfarces - e máscaras - que esses atores costumavam usar, quando uma crítica ou denúncia lhes diziam respeito.
Não se preocupam sequer com a aparência, que acabou transformando a prática da aliança política em troca. Barganha por sabe-se lá o que, pelo simples fato de se manter o status do poder. O correto, mesmo, é substituir o termo “aliança” por conchavo, ou no seu mais triste sinônimo, conluio, cujo significado é “combinação entre duas ou mais pessoas, para prejudicar outrem; maquinação, conspiração, trama”. A carapuça deixou de ser a veste da vergonha, para se tornar traje obrigatório.
É dessa forma que a maioria, de prefeitos ao presidente da República (passando por vereadores, deputados, governadores e senadores), age. Virou prática!
E o nível do descaramento chegou a tal ponto, que eles estão pouco se lixando para a opinião pública - como disse recentemente um deputado - e se prestam a qualquer papel, para não perderem as benesses que lhes são garantidas por posturas pouco confiáveis. Convenientes mesmo só a eles próprios. O “não se lixar para a opinião pública” tem o mesmo significado do que dizer “vocês só têm importância na hora de votar para nos eleger”. Depois, viram as costas. E parafraseando um ex-presidente, pedem para que esqueçamos tudo o que falaram; projetos e compromissos assumidos com a comunidade se transformam em mero interesse pessoal.
Esse descaramento desenfreado acaba por promover a desconfiança do cidadão, que apático e abatido pelo desrespeito inevitável, esquece que tem em mãos a mais poderosa arma contra esses verdadeiros usurpadores da vontade popular: o voto; o poder de decisão sobre o futuro de cada político. E que da mesma forma que o elegeu pode jogá-lo no limo. Político que deixou de ser “cortês, delicado ou estadista”, como está nos bons dicionários, para ser um grande oportunista.
E, num último estágio, essa desconfiança transforma-se em descrença, que hoje se abate sobre todos nós, que de protagonistas dessa história nos transformamos em personagens secundários, nas mãos de diretores de filmes de segunda. Ou até terceira categoria.
O que está se assistindo, hoje, na Câmara de Limeira, nesse triste espetáculo chamado CPI do Fantasma, é a mais contundente prova de tudo do que descrevi acima. O que não precisamos, e isso é fato, é de mais sete atores para compor o elenco atual dessa tragédia. Já temos personagens demais. E o que é pior, que desconhecem o próprio roteiro, para o qual foram escolhidos. Vão no improviso dos que não querem se comprometer com nada. Muito menos com a verdade!
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 27 de outubro de 2009
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