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terça-feira, 15 de maio de 2012

Ser honesto não é obrigação legal

Às vezes fico pensando, se um país que precisa de uma legislação específica para nortear o caráter do cidadão, em especial daquele que pleteia cargo eletivo ou é escolhido para compor primeiro, segundo ou terceiro escalão - e seja lá quantos forem - na administração pública, merece o devido respeito e reconhecimento. Fico imaginando que ao enaltecermos leis como a da Ficha Limpa, considerando-a produto essencial para uma limpeza ética na política e sublimando esse tipo de proposta, é porque o fundo do poço está próximo. Tão próximo, que nada mais temos a oferecer de concreto ao povo que compõe essa nação, a não ser o fundo desse poço.
Ser honesto não é obrigação legal. É condição moral imprescindível a qualquer um de nós, independentemente da posição social, econômica ou profissional, que ocupemos ou venhamos a ocupar. E escrever esse artigo, conjugando os verbos na primeira pessoa do plural, é uma forma também de me incluir nessa listagem, reafirmando o propósito de que está na hora de um amadurecimento da sociedade brasileira, no sentido de voltar a se indignar e dar um basta a essa farra institucionalizada, que se tornou justamente a política, fundamentada principalmente na corrupção. São virtudes inerentes ao ser humano, como decência, integridade, idoneidade e a própria honestidade (uma completando e reforçando a outra), que deixaram de compor a personalidade de muita gente. É preciso sair do comodismo e do senso comum, de que aqueles que tomam o caminho da política como missão, por si só já estão em desalinho com tudo isso. Se estão, então não podem continuar. E não continuarão se assim o desejarmos. Se assim o apearmos de seus propósitos de improbidade e dilapidação do patrimônio público em benefício do pessoal.
Resolvi tratar desse tema, áspero e de difícil digestão, após tomar conhecimento de que a presidente Dilma Rousseff (PT) enviou para análise da Advocacia Geral da União (AGU), decreto, que institui os mesmos critérios da Lei da Ficha Limpa para preencher cargos de confiança no governo federal. E que a Assembleia Legislativa paulista aprovou projeto no mesmo sentido. E que, na Câmara Municipal de Limeira tramita - já de data mais longa - um projeto de iniciativa popular, em moldes parecidos. Das duas uma. Ou estamos dando aval à bandalheira, pura e simplesmente, ou então assinando atestado de que não há mais um ser humano honesto (aquele mesmo procurado por Diógenes, com uma lanterna) apto a assumir compromissos públicos. Sejam eles administrativos ou políticos.
E a constatação mais triste, a meu ver, e a mais acertada: nós é que não estamos sabendo escolher nossos representantes. E não estamos aprendendo nem com nossos próprios erros. Os mecanimos agora propostos, que dividem os cidadãos em fichas sujas ou limpas, mesmo com o princípio moral de acertar no seu efeito, causa-nos uma sensação de impotência e uma clara impressão de que o homem só deve ser honesto por lei. Por decreto. Sua condição natural não importa mais. 

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