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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Educação líquida

Duas pessoas extremamente indignadas e uma única fonte geradora dessa indignação: o péssimo hábito de alunos do ensino público rasgarem cadernos e livros textos - a maioria vindos do Estado - para comemorar o encerramento de ano letivo. O fato, já tratado nesta Gazeta em outras oportunidades inclusive com fotos de estudantes cometendo essa verdadeira barbárie, voltou a se repetir. Desta vez na área externa da Escola Ely de Almeida Campos e no Castello Branco. Uma atitude digna do surrealismo que tomou conta do ensino público no Estado de São Paulo. A partir do próprio governo, chegando às unidades escolares estaduais nos municípios. E do próprio descontrole desse Estado em coibir ações dessa natureza, numa demonstração que a autoridade educacional está em crise.
A primeira pessoa indignada foi minha esposa, logo no sábado à tarde, que ao caminhar pela rua Deputado Otávio Lopes, na quadra onde está o Ely, deparou-se com todo aquele mundo de papel picado e, ao se aproximar, viu o estrago em cadernos e livros, que poderiam servir para outros alunos em anos subsequentes. Senão em sala de aula, pelo menos para apoio ou pesquisa. Uma selvageria que não tem explicação e nem argumento que possa defendê-la. Inconformada, ela não encontrava as palavras para descrever a cena, num misto de tristeza e desolamento pelo caminho tomado pelo ensino público.
Indignação também compartilhada, no domingo, por uma professora, que resolveu ligar à redação da Gazeta, solicitando um plantão jornalístico para fotografar e mostrar tamanho absurdo. Agora citando também o Castello Branco. Coincidência (ou não), fui eu quem atendeu a ligação - estava terminando material sobre as competições da Copa Gazeta do dia - e, atentamente, ouvi o seu desabafo. E com toda sua experiência, ensinando em escolas públicas, traçou um perfil da Educação, apontando todas as suas deficiências e mazelas; clamando pela autoridade, ausente e negligente; alertando os pais, sobre o que seus filhos estão fazendo em horário de aula e assim por diante. E chamando a atenção para o simples fato de que o ano letivo ainda não se encerrou, quebrando qualquer possibilidade de defesa dos defensores dessa prática hostil a livros e cadernos.
Resolvi, então, comentar o asssunto. Mesmo sabendo que vai bater no destinatário e voltar sem resposta, com toda a indiferença característica do poder público.

Antonio Claudio Bontorim

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