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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Preconceito, hipocrisia e cegueira

O preconceito, seja qual for sua origem ou destino, sempre nos torna menores. Transborda ódio ao mesmo tempo que esvazia o espírito de quem o pratica. Empobrece a alma. Seja de maneira acintosa, direta e com alvo definido; ou apenas subconscientemente, quando sem querer fazemos um comentário, envolvendo outros povos, etnias, opção sexual ou religiosa, pessoas portadoras de deficiências enfim, no momento em que menosprezamos determinado indivíduo ou grupo, pelo simples fato de exibirem suas diferenças. Ou então nos esborrachamos de rir depois de uma piada, na qual o engraçado está justamente nesse protagonismo.
Resolvi tratar desse assunto hoje, como complemento à nota que abriu minha coluna de domingo (Texto & Contexto) nesta Gazeta (Vida de gado, povo marcado...), sobre a total ausência de políticas públicas voltadas à juventude limeirense, que a obriga - não por vontade, mas por falta de opções - a ficar limitada às divisas impostas por cordas e a caminhar, num vai e vem frenético, de um lado para o outro num ponto, onde não há nada que possam fazer, senão o encontro e a conversa. A paquera ou “azaração”, como costumam dizer os adolescentes. Dificilmente frequentam as dependências do shopping.
Sobra então o preconceito contra todos esses “desocupados”, “manos” ou “minas”, que só “servem para tirar a tranquilidade dos frequentadores do local”. Definições, palavras e frases, que já ouvi de muita gente. Gente que se autodefine como “de bem”; que enxerga naquelas pessoas um risco para seu sossego ou mesmo à sua própria integridade física. Talvez esse seja um claro exemplo do preconceito subconsciente, por que a visão daquelas centenas de criaturas humanas, divertindo-se numa espécie de “mangueirão” improvisado, ao relento, e sem nenhum objetivo visível - a não ser a convivência e troca de informações - desnude uma triste realidade. E o grande dilema de que é preciso enfrentar e, de imediato, encontrar uma solução que possa alterar substancialmente esse tipo de situação, possibilitando a integração, sem constragimento, dessa parcela da população, que talvez ao agir com suas provocações - algumas violentas, até - estejam querendo apenas pedir ajuda. Clamando contra a omissão desse poder público, desinteressado e ausente dos problemas que afligem o bem-estar social.
A hipocrisia, neste caso, é o alimento do preconceito. E o preconceito impede uma visão sensata dessa realidade. Um ponto cego da atual administração pública.

Antonio Claudio Bontorim

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