Conversas de botequim rendem muito. Nós, jornalistas, costumamos produzir aos montes à sombra de um copo. E até mesmo decisões políticas, que podem mudar o rumo de uma história, ganham notoriedade em mesas de bar. A fala solta, após goles e goles de cerveja, uísque ou cachaça, permite-nos reflexões que brotam d’alma para a consciência, num estalar de língua. Não é só dos balcões ou mesas cheias de garrafas, que tiramos nossas inspirações, que caminham para a polêmica, quando o assunto é polêmico. Ou é transformado em polêmica, mesmo tendo sido banalizado pela mídia sensacionalista. Ou ainda elevado a uma manchete devastadora.
Na semana passada deparei-me com uma situação semelhante. Só que não foi conversa de bar, não. O debate foi sério. Acirrado. Sem, no entanto sair da racionalidade das ideias. Estávamos diante de um impasse. Depois da saída de atividade física de uma academia, já nos vestiários, um de meus companheiros puxou o assunto, que me interessou: o pedido de desculpas do comandante geral da PM de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, àquela mãe que perdeu seu filho, um motoboy, vítima de tortura sofrida dentro de uma companhia da própria Polícia Militar. Ele estava indignado com a atitude do coronel em pedir “perdão” pela morte do rapaz, o que colocava, a seu ver, toda corporação sob suspeita. E o militar em questão em clara desobediência a seu superior, no caso o governador do Estado. Não tirei o seu direito à dúvida e nem à exposição de suas ideias. Deixei-o falar, mas ponderei sobre outro lado dessa mesma moeda.
Como argumento, disse-lhe que a atitude do coronel fora humana e humanizava a Polícia Militar, que pela primeira vez, ao menos do meu conhecimento, tomava uma atitude dessa natureza. Procurei mostrar que se ele assim agiu, foi porque tinha a plena certeza do envolvimento dos PMs no caso e havia simplesmente exposto a realidade com clareza e, em nenhum momento, desmereceu a instituição Polícia Militar, mas visou ao grupo de policiais (como tantos que ainda existem por aí e que nutrem eterna saudade da tortura) envolvidos. Não o demovi de seu raciocínio. Ele insistiu, afirmando que o comandante só poderia tomar tal decisão, após o julgamento e condenação dos envolvidos. Contra-argumentei com a “clareza e provas dos fatos” apresentadas. Ele insistiu. Perguntou-me se eu fosse um empresário e um funcionário meu desobedecesse a uma ordem, qual postura tomaria? Ao que respondi: se a desobediência trouxesse benefícios à empresa, certamente seria gratificado. A atitude do comandante da PM foi humana, benéfica à história da Corporação e trouxe uma nova visão de comando. Foi gratificante ouvi-lo.
Sua “desobediência” foi oportuna. E, posteriormente, ratificada pelo secretário de Estado da Segurança, seu superior imediato. E, agora, pelo seu comandante-chefe, o governador do Estado de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), que autorizou pagamento de indenização à mãe da vítima. Estava certo o coronel!
Antonio Claudio Bontorim
terça-feira, 4 de maio de 2010
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