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terça-feira, 27 de abril de 2010

Tragédias anunciadas

De tempos em tempos somos sacudidos por tragédias que fogem a qualquer explicação racional. Isso porque buscamos racionalidade em tudo o que nos cerca. Naquilo que presenciamos como testemunhas ou participamos como protagonistas. Tudo, sem exceção, requer uma explicação dentro da lógica. Da razão. Não falo de catástrofes naturais - como terremotos, tsunamis e erupções cinematográficas - que fazem a alegria dos editores dos telejornais, porque quando previsíveis ou previstas, podem ser amenizadas pela ação do próprio homem. Muito menos de conflitos humanos baseados em crenças religiosas ou no domínio político, porque isso pode ainda ser modificado com o uso da própria razão, que deve sobrepor-se sempre aos choques culturais. E emocionais.
Esses conflitos podem ser resolvidos com a simples aceitação das diferenças de hábitos e costumes de cada povo. Com o respeito ao outro, que não professa a mesma fé (faz sua prece diária para a mesma divindade suprema, mas que tem muitos nomes e assume formas para que cada um entenda à sua maneira), não fala a mesma língua, não tem a mesma opção sexual ou não torce pelo mesmo time de futebol. São nuances de pontos de vista diferentes que, na maioria das vezes, vão para o embate pela irredutibilidade de uma ou de ambas as partes. Eternas disputas alimentadas por lobbies mercantilistas e por isso não são interessantes que tenham um fim. Ou que se encerrem no lema libertário da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade!
Falo, sim, de tragédias coletivas que ceifam vidas tão inexplicáveis e abruptamente, que fogem ao nosso controle e não podem ser previstas. Falo, sim, das tragédias irracionais que povoam nossas mentes, porque um cidadão resolveu atirar na mulher e ao se perceber da própria ação, pega o carro sai em disparada por uma estrada à procura da morte e acaba matando quem nada tinha a ver com suas tragédias pessoais. Como na noite de sábado em uma rodovia na cidade de São Pedro. E dessas que destroem famílias inteiras, sabe-se lá por qual motivo, que sem testemunhas ficam nas simples estatísticas das mortes no trânsito. Como ocorreu como uma família que saiu de Limeira no domingo à tarde e encontrou a morte num viaduto na Rodovia Carvalho Pinto, no trajeto para o Rio de Janeiro.
Muito próximas uma da outra temporalmente falando, elas nos sugere, mais uma vez - e nas tantas que já ocorreram e na mesma proporção - uma reflexão sobre o comportamento no trânsito. No primeiro caso, ficou clara a intenção suicida depois de um gesto tresloucado. E, no segundo, o inexplicável ainda ronda nosso senso de apuração. Mas ambas já estão perpetradas. Não vem ao caso agora, mas basta percorrer poucos quilômetros de uma rodovia de intenso tráfego para se perceber quanta imprudência se comete. Quantos possíveis suicidas (e homicidas) estão por traz de um volante. E que mesmo imprevisíveis, essas são tragédias anunciadas!

Antonio Claudio Bontorim

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