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terça-feira, 6 de abril de 2010

Doença da alma

Uma das piores doenças do ser humano é o preconceito. Não tem cura e não há medicamento conhecido que possa tratá-la ou amenizar a dor que ela causa, não no portador dessa odiosa e crônica moléstia. Mas sim naqueles que são as vítimas daqueles que por ela foram infectados. É uma doença da alma, que corrói por dentro, transformando a solidariedade em indiferença, cuja principal causa é a ignorância. Ignorância que leva à incivilidade.
Não importa o tipo. Seja motivado pela cor da pele, pela condição social, pela religião, pela nacionalidade ou pela capacidade intelectual ou física de alguém, acaba se tornando uma chaga aparente, que nunca vai cicatrizar. O ser preconceituoso não tem a noção do quanto o mal que carrega consigo afeta o seu semelhante. De quão danosa é sua atitude, apenas pelo fato de não enxergar nesse semelhante a sua própria imagem refletida. Ou então ver nele o reflexo de sua arrogância, que pode ser uma causa paralela desencadeadora desse distorcido sistema de valores, que rotula e exclui. Que define alguns como melhores que os outros. Que busca, talvez, lá nos ideais de Adolf Hitler, a expressão mais palpável dessa intolerância: o sonho de uma etnia pura, clara e de olhos azuis. Sem defeitos físicos ou mentais, a condição ideal para a humanidade. Porém, de desvirtuado caráter.
E esse preconceito torna-se tão mais nocivo, quando parte de pessoas informadas e supostamente bem formadas. De formadores de opinião, que em plena rede nacional trata de forma vilipendiosa o varredor de rua, só porque ousou aparecer perante as câmeras e desejar um feliz ano-novo, com sorriso de felicidade, como se a ele não fosse dado esse direito. Todos se lembram das palavras do jornalista e apresentador da Rede Bandeirantes - que depois se desculpou de forma tímida - Boris Casoy, que traído pelo som aberto do estúdio onde ancorava um telejornal, fez ilações nada elogiáveis sobre os garis, que cometeram a “indelicadeza” de dar boas-vindas ao ano de 2010, externando seus votos a todos os brasileiros, naquele 31 de dezembro de 2009.
A religiosidade, cujo princípio básico é pregar amor ao próximo, não deve nunca servir de muletas e fomentar atitudes preconceituosas. Como as protagonizadas por alguns jogadores do Santos FC na última quinta-feira, que se recusaram a sair do ônibus do clube para entregar ovos de Páscoa a pacientes especiais atendidos pelo Lar Espírita Mensageiros da Luz. Ídolos atuais do elenco, como Robinho, Neymar, Paulo Henrique Ganso, entre outros, se apegaram a motivos religiosos - muitos são evangélicos - para não entrar no local, alegação que por si só já revela enorme preconceito. Pediram desculpas depois, mas a exemplo - ou mau exemplo? - de Casoy, sem convencer ou apagar a péssima impressão deixada. A solidariedade não tem crença, cor, nacionalidade ou condição social. Contrapõe-se à intolerância.

Antonio Claudio Bontorim

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